Notícias

Movimentos farão rolezinho em repúdio a repressão a jovens neste sábado (18) em SP

Pelo menos outros nove eventos estão marcados em shoppings da cidade e região metropolitana até 15 de fevereiro; parques e clubes também terão rolês

Movimento negro organiza protestos na cidade de São Paulo. O primeiro rolezinho, promovido pela Uneafro, Núcleos de Educação Popular para Negros e Classe Trabalhadora, será no Shopping JK Iguatemi, na zona sul de São Paulo, no sábado (18), às 12h, em repúdio à reação violenta e racista aos encontros organizados por jovens na cidade. A concentração dos manifestantes será no Parque do Povo, ao lado do centro de compras.

Pelo menos outros nove rolezinhos estão agendados em shoppings na cidade e na região metropolitana até 15 de fevereiro. Também há eventos marcados no Parque do Ibirapuera e nas unidades Itaquera e Interlagos do Sesc. Em solidariedade aos paulistanos, cariocas marcaram um rolezinho no Shopping Leblon, no domingo (19).

O shopping JK é um dos seis que obtiveram liminar na justiça paulista para que os eventos não ocorressem, com multa de R$ 10 mil para descumprimento da decisão. Em sua decisão, o juiz Alberto Gibin Villela argumenta que “grupos se infiltram nestas reuniões com finalidades ilícitas e transformam movimento pacífico em ato de depredação, subtração, violando o direito do dono da propriedade, do comerciante e do cliente do shopping” e que o direito de livre manifestação não pode se sobrepor a outros.

“É uma reação do movimento negro à forma como têm reagido, não só os shoppings, mas a própria justiça que, de maneira deliberada, institucionaliza uma segregação. O controle desses rolês é uma face do racismo mascarado pelo discurso da segurança e proteção. O que não é novidade, porque esse discurso sempre foi usado para praticar violência contra a juventude pobre em geral e a negra em especial”, afirma o coordenador da Uneafro, Douglas Belchior.

No último sábado (11), dois rolezinhos foram reprimidos na cidade. No Shopping Itaquera, zona leste, a PM chegou a usar bombas de gás e balas de borracha contra os garotos na rampa que liga o metrô ao centro de compras. No Shopping Campo Limpo, zona sul, jovens foram agredidos com cassetetes por policiais. Os dois estabelecimentos também tinham liminares que impediam os rolês.

Os eventos estão sendo organizados por meio da rede social Facebook. Nos textos de descrição dos eventos, os organizadores afirmam que se trata de uma “oportunidade de tirar um lazer” e pedem para que ninguém “arraste”, ou seja, prejudique o evento. Adolescentes de ambos os sexos publicam fotos e falam em beijar na boca. Há também posts mencionando ações criminosas, a maioria deles repudiada por outros convidados, que acusam os incitadores de serem policiais, ou X9 (dedos-duros).

Para Belchior, a reação revela uma postura contraditória inclusive por parte dos shoppings. “Nos últimos anos muitas pessoas tiveram acesso ao consumo e esses centros comerciais se espalharam, inclusive pelas periferias, justamente atrás desse poder aquisitivo. A presença dessas pessoas acaba gerando um impasse, que é justamente o impasse racial nesses lugares que eram ‘monocolor’”, desabafa.

O coordenador da Uneafro afirma que é fundamental combater esse tipo de ação porque ela torna natural o racismo. “O jovem que é impedido de entrar no shopping hoje é o mesmo que é visto com muita naturalidade como vítima de assassinato, como preso ou decapitado. O racismo trabalha essa lógica”, pontua.

Corpos e espaços

O Coletivo Negro do SinPsi avalia o rolézinho como o reconhecimento para a existência, pertencimento ao território, reconhecimento de singularidades, de símbolos, de formas de produzir afetos. Trata-se de se pertencer aos lugares que lhe são próprios, mas que extrapolam o permitido.

“A periferia querer e exigir o templo maior do capitalismo é um paradoxo. A ambiguidade é porque os corpos não se conformam mais com a exclusão, mas buscam os espaços que não foram feitos para recebê-los, como possibilidade de inclusão. Ainda assim é uma situação emblemática”, explica o psicólogo Alessandro Campos, do Coletivo Negro.

A psicologia tenta exatamente manejar essas polaridades. Acredita que antes de tudo o sujeito é construído na força de sua singularidade com uma sociedade continuamente em movimento.

“Não nascemos humanos, mas com a capacidade de nos humanizar. E o que caracteriza essa humanidade? A produção de subjetividade? A ânsia de felicidade? A angústia? Independente das respostas o que vemos é uma sociedade sem parâmetros para a aceitação do diferente. Olhamos uma elite – ou quem a almeja – desesperada para manter seus privilégios e um Estado interessado em manter a desigualdade e a exclusão”, ressalta.

O SinPsi, junto ao seu Coletivo Negro, reconhece o rolezinho como legítima ocupação do espaço por jovens da periferia e entende ser esse momento oportuno para o debate sobre desigualdade social e questões raciais. 

Deixe um comentário