Por Norian Segatto
Pelo menos era isso que achava o mandatário daquele país, carinhosamente apelidado pela população de Presidente Genô. Pois bem, nesse país, que faz divisa com Miliciópolis e Corrupistão, Genô, cujos filhos eram peritos em rachadinhas, não acreditava que mulher sangrava – foi meu ministro da Saúde quem me confirmou isso – explicava a um gado que pastava pelos seus jardins. Assim orientado, achou por bem vetar a lei 14.214, do Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual, que autorizava a distribuição gratuita e pública de absorventes a jovens e mulheres de baixa renda e situação de rua.
– Não tem dinheiro pra isso, não, talquei? Argumentava Genô, com o dedo em posição fálica.
Não adiantou a senadora autora do projeto argumentar que uma em cada quatro jovens não frequenta a escola durante seus ciclos por não ter dinheiro para comprar absorvente.
– Esse negócio de ficar com a calcinha manchada de vermelho é coisa de comunista, meu governo não vai apoiar isso – esbravejou o mandatário de Bozolândia.
Contra a alegada falta de verbas para fornecer absorvente íntimo às mulheres, e apesar do negacionismo presidencial em reconhecer que isso acontecia regularmente, estudiosos sugeriram taxar um tiquinho grandes fortunas e empresas offshores, como aquela que um de seus ministros tentou esconder.
Furioso com tais insinuações, Genô decidiu usar mais a caneta e também vetou uma parte do projeto que determinava a inclusão dos absorventes nas cestas básicas entregues pelo Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. O Congresso Nacional de Bozolândia ainda pode derrubar os vetos.
Satisfeito com mais uma sábia decisão, Genô refletia “o governo não está aqui para ser paternalista com os pobres”, enquanto aprovava dois importantes projetos para seu país: a liberação de agrotóxicos proibidos há décadas em outros países e a menor tributação de impostos para os muito ricos.
Em tempo: no Brasil ocorreu um caso semelhante, confira aqui.
Foto: Tiago Ghizoni / Diário Catarinense