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O sindicato cresceu de importância nos últimos anos, diz Rogério Giannini

 

Maior reconhecimento do sindicato pelo movimento sindical e entidades da sociedade civil, atuação mais protagonista frente aos problemas da sociedade e luta contra pautas conservadoras como a cura gay, esses são os principais pontos em que o Sindicato dos Psicólogos de São Paulo (SinPsi) avançou nos últimos anos, na opinião do presidente Rogério Giannini. 

Agora ele se licencia do cargo para concorrer, na chapa Cuidar da Profissão, a eleição do Conselho Federal de Psicologia, nos próximos dias 24, 25, 26 e 27 de agosto. 

Nessa entrevista ele conta como foi a experiência de dirigir o sindicato, quais foram os avanços nesse período, como será a transição para o desafio do Conselho Federal de Psicologia e quais as principais plataformas de sua chapa.

Confira: 

Quando você começou na luta sindical?

A minha ligação com os Sindicatos vem desde 1984, nesse momento, como militante da Pastoral Operária, nós nos envolvíamos nas disputas dos sindicatos mais importantes. Lembro de ter participado, em 1984 e 1987, da oposição sindical metalúrgica de São Paulo e o nosso trabalho era de militante, panfletar em porta de fábrica, colar cartaz, etc. Recordo de uma experiência interessante que foi a disputa do sindicato dos têxteis em Americana, fomos lá apoiar uma chapa com maioria feminina ligada a Pastoral Operária. Nessa época eu tirei férias do meu emprego para fazer duas semanas de apoio e assessoria. Eu morava em Osasco e fiquei hospedado em uma casa paroquial. Eu tinha entre 24 e 25 anos.

Depois, já nos anos 90, eu fui estudar psicologia e já formado fui trabalhar na secretaria de formação da CUT Nacional desenvolvendo programas de capacitação profissional e cidadã. Fiquei durante dois anos e fiz uma especialização em reestruturação produtiva e as mudanças no mundo do trabalho. Só nessa experiência é que eu tomei contato com o Sindicato dos Psicólogos, no início dos anos 2 mil eu me filiei ao sindicato, alguns anos depois eu comecei a militar mesmo, virei diretor e posteriormente presidente. 

Você poderia fazer um balanço de como foi a sua atuação frente ao SinPsi

Acho que uma marca importante foi o crescimento e a qualidade da sua representação. Ele (o sindicato) passou a ser muito mais reconhecido nos processos de negociação coletiva. Quando eu iniciei, o sindicato negociava com 4 organizações patronais, hoje ele negocia com 9. Além disso tivemos uma série de negociações com prefeituras, autarquias e diversas entidades. Também passamos a ter uma participação importante em temas da sociedade, é uma característica dos sindicatos de categoria profissional, ter uma ligação com o movimento sindical e com a profissão. 

Nós conseguimos ao longo desses anos também entabular uma relação com o sistema conselhos de psicologia e isso permitiu que uma série de lutas tenha avançado de modo importante. Eu poderia citar a questão das 30 horas, que eu considero uma vitória, porque apesar de termos aprovado tanto no Senado como na Câmara, nas diversas comissões, a lei acabou sendo vetada pelo Michel Temer, que na época substituía a Dilma que estava em viagem internacional. Vitória porque na luta das 30 horas tivemos um aumento do reconhecimento do sindicato como órgão organizador da categoria, nesse processo foi muito importante a participação integrada das diversas entidades da psicologia, mas infelizmente no ano de 2014, isso acabou sendo quebrado pelo grupo que assumiu o Conselho Federal de Psicologia, o grupo Fortalecer, que teve a pretensão de tocar o processo sozinho, rompeu relações com o sindicato dos psicólogos de São Paulo e criou dificuldades no processo de parceria com a Fenapsi. Aqui em São Paulo, continuamos unidos e integrados com o conselho, os nossos manifestos, que eram assinados por nós e pelo Humberto Verona do CFP (gestão do Cuidar), depois disso passaram a ser assinados pela Elisa Zaneratto do CRP/SP (também do Cuidar). Claro que isso enfraquece a luta e nós tentamos manter a parceria, mas até para audiência com ministro o CFP se recusava a incluir o SinPsi. 

Além disso, tivemos duas outras ações de grande porte que foi a questão da cura gay, o Projeto de Lei que mudava uma resolução do CFP que proíbe oferecer cura à homossexualidade. Esse projeto estava em tramitação e houve uma grande mobilização da sociedade em que o sindicato fez audiências na rua, no MASP e Praça Roosevelt, que tinha mais de 2 mil pessoas. Foi um processo que o sindicato, o sistema conselhos e uma série de entidades da sociedade civil se mobilizaram e nós conseguimos barrar. 

E o outro foi o do ato médico, que teve participação do sistema conselhos, um protagonismo muito forte das entidades sindicais, o sindicato dos psicólogos trabalhou fortemente e conseguimos barrar. 

Também tivemos papel importante, e parceria importante com o CFP, foi a conquista junto a ANS da mudança no ROL dos procedimentos obrigatórios da Saude Suplementar da psicoterapia. Curioso que a atual gestão do CFP abandonou a representação que a psicologia tem na ANS, simplesmente a presidente do CFP deixou de ir às reuniões. 

Fora que também tivemos muitas vitórias nos processos de negociação coletiva, nós conseguimos pequenos, mas importantes avanços como a questão do aumento do piso. Nunca assinamos acordos coletivos que rebaixassem direito da trabalhadora psicóloga e esse ano nós brigamos até abril para fechar a convenção coletiva com o SindHosp, data base de setembro do ano passado, mas como eles estavam oferecendo índice menor que a inflação, nós resistimos, e fomos até o dissídio coletivo que foi julgado e conseguimos o reajuste integral. 

O sindicato tem atuado olhando para categoria, mas também para sociedade, para o movimento sindical e para o movimento da psicologia, e isso tem sido uma marca importante. O sindicato cresceu de importância dentro da organização de um modo geral. Esse crescimento permitiu que eu tenha sido eleito para a direção executiva da CUT. Além disso a Fernanda Magano é presidente da Fenapsi e diversos diretores representam o sindicato em fóruns de negociação e conselhos do Controle Social.

Agora você vai participar da eleição do Conselho Federal de Psicologia, como se dará essa transição? 

É bastante interessante do ponto de vista que é um novo desafio, mas que nós já atuamos de alguma forma bastante próxima do sistema conselho. De certo modo isso facilita o processo de transição. Outro ponto fundamental é que eu participo dessa eleição pela chapa Cuidar da Profissão, que inclusive tem um nome muito sugestivo de “Cuidar da Profissão, Avançar na Psicologia com Ética e Cidadania”. Falo que tem um conforto, porque as formulações do Cuidar da Profissão, no que se refere ao processo democrático da construção da psicologia, passa pelo apoio e fortalecimento de todas as entidades da categoria, inclusive com o apoio a criação de novas entidades de psicologia procurando dinamizar e de uma desta forma aumentar a capilaridade da representação da psicologia em todo o Brasil. 

Outra formulação importante do Cuidar é a compreensão de que se é verdade que as questões do trabalho têm que ter protagonismo dos sindicatos, também é verdade que do ponto de vista da qualidade do exercício profissional temos a necessidade de uma preocupação com as condições em que se dão os serviços que a psicologia presta à sociedade, isso também está incluído ás condições de trabalho e isso deve ser pensado pelo conjunto das entidades. Levo do Sindicato a minha experiência de combatente em causas, minha concepção de mundo do trabalho e minha formação nessa área, isso aponta para uma sinergia positiva da minha experiência em relação a esse novo desafio, que não é o que eu fiz até agora, é numa dimensão nacional, mas me tranquiliza o fato de estar em um grupo que acumula muita discussão, tem experiência de gestão e fornece formuladores para diversas áreas.  

Em relação a campanha, como está indo?

A nossa chapa nacional tem uma composição interessante, com representação de muitos setores da psicologia e de todas as cinco regiões do Brasil. É um grupo que tem uma diversidade capaz de representar com qualidade os diversos aspectos da psicologia. Nós costumamos dizer no Cuidar da Profissão que toda a psicologia feita com ética, com cidadania e com qualidade nos interessa, nada é estranho a nós, queremos acolher toda a psicologia em toda a sua diversidade. O Cuidar também tem, nas chapas regionais, representação em praticamente todo o Brasil, temos chapas em 18 Conselhos Regionais, o que dá uma confiança que nós vamos contar com uma rede para nossa atuação no âmbito federal. Na nossa concepção, não existe o Conselho Federal e o Conselho Regional, existe o sistema conselhos. Atuamos, por exemplo, periodicamente nos reunindo (cinco vezes ao ano) em uma estância que chamamos de APAF (Assembleia das Políticas da Administração e das Finanças) decidindo coletivamente envolvendo todos os 23 regionais. Vamos levar também essa visão de fortalecimento das entidades, de considerar como muito importante o fortalecimento do movimento sindical da psicologia como horizonte desse trabalho e também entender qual a disputa que está se dando dentro da sociedade.

Em relação aos nossos adversários, tem o que está na direção do federal e eu particularmente tenho uma divergência profunda na forma que eles tentaram capturar o movimento sindical, tentaram “escantear” o movimento e vender uma ilusão para categoria que o Conselho ia tocar as questões sindicais, numa visão simplista e empobrecida da questão. Acreditamos em ações combinadas, parcerias, articulação de forças. Vou dar um entendimento muito simples, o Conselho não pode constituir assistência jurídica aos psicólogos, quem faz isso são os sindicatos. Defender causas coletivas é atribuição dos sindicatos que são legalmente substitutivos processuais, o Conselho está impedido de fazer isso. Então se você vai enfraquecer os sindicatos, quando chega em uma ação coletiva na defesa de algum direito, como isso iria ser feito? A nossa divergência é que nós não estamos nessa de vender ilusão, de desinformar. A gente acredita em informar corretamente a categoria e construir pautas sólidas. Recusamos o populismo. 

Em âmbito nacional ainda tem duas chapas que é o Renovação e a Psicologia em Ação. O grupo chamado Renovação não renova nada, é uma repetição de um velho discurso pseudocientífico, de que ciência e política não tem nada a ver, numa espécie de purismo epistemológico que nem o positivismo comporta, ainda mais se tratando de sujeito humanos e, portanto, históricos e sociais. Eu tenho até uma brincadeira que é – avisaram isso aos cientistas, físicos, químicos da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência)? – Acompanho a SBPC desde os anos 80 e eles sabem que política e ciência andam juntas. O Renovação nos acusa de fazer um discurso ideológico na questão da mulher e do negro por exemplo. Nós afirmamos que não é ideológica, pois se trata de pessoas que sofrem o preconceito racial e o machismo, e sofrem concretamente em seu cotidiano e isso impacta profundamente e sociedade e as subjetividades. Nós não estamos falando de outra coisa a não ser o nosso compromisso como psicólogas na construção do cuidado e do bem-estar social. Longe de ser uma disputa de bandeiras, é o reconhecimento de que esses sofrimentos são reais, concretos e históricos. A psicologia deve estar atenta a isso para que a gente não faça algo desencarnado da história e da sociedade. Isso vale para a clínica e vale para os testes psicológicos. Quero afirmar que todo o espectro teórico será representado por nós. O Conselho tem que representar o conjunto e nosso recorte é sempre ético e cidadão, nunca uma escolha por uma teoria ou outra.

E a última chapa ainda é um mistério, ela não tem apresentado o que ela pretende, mas o contexto é que são setores absolutamente conservadores, contrários aos avanços sociais, que vão fazer pregação defendendo posições mais reacionárias da sociedade, tudo aponta para isso. Inclusive tem representação, nessa chapa, de setores que estão apoiando a cura gay e isso nos preocupa muito porque esses setores foram se organizando com discurso de que nós somos contra a religião. Nós afirmamos sempre o contrário, defendemos o estado laico como forma de garantir a liberdade religiosa, porque se o estado for capturado por uma ou por outra religião, vai colocar para fora todas as demais. Achamos que hoje grupos que se identificam como evangélicos, mas não são a totalidade dos evangélicos e sim segmentos que tem mais visibilidade de mídia, que elegem políticos e acabam pretensamente falando em nome de todas as pessoas religiosas, apresentam uma pauta muito retrógrada e tentam colocar o Estado a serviço do que acreditam. A gente diz que a prática psicológica tem que ser profundamente respeitosa, não vamos doutrinar nem para uma coisa nem para outra, mas vamos respeitar as pessoas, populações e sujeitos. Todos os que são atendidos pelas psicólogas são ouvidos no conjunto de suas crenças, religiosas ou não. 

É este o complexo cenário que se apresenta na nossa disputa e temos convicção que nossas questões extrapolam a psicologia e transbordam para a sociedade. 

O que você gostaria de dizer à categoria nesse momento de despedida do sindicalismo?

Primeiro que, durante todos esses anos, sempre atuamos coletivamente. Segundo que avançamos quando a categoria vem junto, quando nós de fato a representamos. Um exemplo foi a luta pelas 30 horas na Fundação Casa, que o SINPSI teve uma atuação estratégica. A Fundação Casa tem um sindicato geral, que tem mais de 15 mil trabalhadores e algumas centenas de psicólogos. Quando tentávamos disputar sozinhos, não dava porque os outros trabalhadores consideravam as 30 horas um privilégio. Então qual foi a nossa estratégia com as psicólogas da Fundação: ir para dentro das assembleias gerais e convencer os trabalhadores e trabalhadoras que aquilo não era um privilégio e pela característica do nosso trabalho, era importante para melhorar a qualidade do serviço. Cito isso como exemplo para mostrar o quanto é importante estar junto com a categoria, conhecendo e atuando e foi assim que tivemos sucesso. A ideia do trabalho coletivo é sempre fundamental. 

Nesse tempo todo tenho atuado profissionalmente como educador e formador popular e atualmente como formador em projetos de economia solidária e geração de renda com população de rua. Acredito que essa experiência me ajudou muito na atuação como dirigente sindical. Penso que a prática sindical com suas reuniões e assembleias, é também prática formativas.

Agradeço ao apoio e a resposta da categoria a minha atuação e creio que vou levar esse espírito e aprendizagem para essa nova etapa que é o Conselho Federal. Tenho a sorte a honra de estar disputando como presidente por um grupo que eu ajudo a construir já faz um bom tempo. Espero que a nossa história e trajetória possam ser bem entendidas pela categoria e que possamos ter uma atuação digna dos desafios que a psicologia vem enfrentrando no Brasil.

Veja o vídeo de Giannini se despedindo do sinsicato:

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