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Os dilemas da divulgação do trabalho da(o) psicóloga(o)

A necessidade de divulgar seu trabalho, somado às cada vez mais diversas formas de meios de comunicação para divulgá-lo, traz à(ao) psicóloga(o) uma ampla gama de possibilidades, mas também de dilemas. O que é eticamente permitido que a(o) psicóloga(o) veicule no momento de fazer a publicidade de seu exercício profissional?

“Os códigos de ética são grandes avenidas”

De acordo com o artigo 20 do Código de Ética, a(o) psicóloga(o) deve sempre informar seu nome completo, a palavra psicóloga(o) seguida do regional do CRP e seu número de inscrição. Além disso, a publicidade não deve conter o preço do serviço como forma de propaganda, nem uma previsão taxativa dos resultados.

Mas quais cuidados são necessários, por exemplo, no momento em que a(o) psicóloga(o) quer se posicionar publicamente com base em um conhecimento produzido com determinados usuários de seu serviço? Ou no momento em que vai fazer um cartão de contato para divulgar seu trabalho, e além de psicóloga(o), ela(ele) exerce outra atividade? As duas informações podem estar juntas?

“Os códigos de ética são grandes avenidas. E a ação da(o) psicóloga(o) sai das grandes avenidas para as pequenas ruas, os becos”, alude Patrícia Mortara, professora de Ética Profissional da Psicologia da PUC-SP, ao lembrar que o código de ética “dá pistas que são claras e objetivas mas que não são estanques e têm diferentes interpretações. Ter uma postura ética é pensar a respeito daquilo que o código diz”, salienta.

Associação de práticas

“Não há impedimento que a(o) profissional da psicologia exerça outra prática. Se ele é psicólogo e advogado, para que as pessoas não achem que o profissional vai fazer uma psico-advocacia, a divulgação tem que ser claramente distinta”, esclarece Luiz Eduardo Berni, presidente da Comissão de Orientação e Fiscalização do CRP-SP.

“Esse é um dos principais problemas que temos: quando a pessoa faz uma divulgação unificada dos campos em que atua, ela também faz uma unificação da sua prática”, resume Luiz Eduardo. Se uma pessoa é psicóloga e astróloga e divulga isso junto, interpreta-se que o serviço oferecido seria uma psico-astrologia. “Essa pessoa não está no campo da ciência porque astrologia não tem um reconhecimento científico. E a psicologia parte da ciência psicológica. Para deixar claro que uma coisa é uma coisa e outra é outra, a gente instrui que as pessoas podem realizar as duas ações, mas que publiquem em mídias distintas”, explica o psicólogo.

Se a informação clara ao usuário é o que deve nortear as decisões para pensar a publicidade profissional, a(o) psicóloga(o) poderia interpretar que seria mais honesto explicitar a variedade de práticas na qual ela(ele) é especializada(o), ainda que aquelas práticas digam respeito a outro campo de conhecimento ou a algo não reconhecido como ciência? Ao refletir sobre essa pergunta, Patrícia Mortara lembra do filme “A vida é bela”, em que dentro de um campo de concentração nazista, o pai explica ao filho pequeno de forma fantasiosa e até divertida a trágica experiência que os dois vivenciam. “Ele não estava falando a verdade, mas estava sendo desonesto?”, questiona Mortara, ao lembrar que “ser honesto tem a ver com cultura e história. Acho que os pontos principais para nortear as ações da(o)psicóloga(o) são o respeito pelo outro, o responsabilizar-se pela consequência de seus atos e a cidadania”.

“Eu poderia ser psicóloga e mãe de santo”, afirma Mortara: “Mas não caberia a mim dizer a meu paciente que vá no terreiro. São formas diferentes e não devem ser misturadas”. Para ela, a proposta da psicologia é “entender o sujeito, fomentar que o sujeito se compreenda e que ele seja uma pessoa que dê conta da sua vida: empoderá-lo. Não oferecemos a cura, a solução das dores com remédios nem sanamos a angústia. Trabalhamos para que o próprio sujeito sane a sua angústia”.

Cuidados que uma(um) psicóloga(o) deve ter

Em tempos de divulgação fácil e rápida, Patrícia Mortara ressalta que, ao fazer a comunicação de seu trabalho, é fundamental que a(o) psicóloga(o) pense com calma naquilo que está se propondo a fazer. “Posso colocar no site que tive bons resultados com meu trabalho? Acho que não. Posso dar uma entrevista e falar o que penso? Sim, mas é preciso proteger o sujeito, não pode dar informações sigilosas”, exemplifica.

“Não tem receitas prontas e dilemas sempre vão surgir”, descreve Mortara, ressaltando a importância de conversar com os pares e também com a Comissão de Orientação e Fiscalização do CRP-SP. “Isso é saudável para a(o) profissional e também para a categoria como um todo, pois a todo momento temos que produzir reflexões e posicionamentos sobre como fazer frente a uma realidade que se modifica constantemente”, aponta.

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