Sem comunicar a prefeitura de São Paulo, a Polícia Civil foi à região do centro da capital conhecida como “cracolândia” reprimir dependentes químicos justamente no momento em que a gestão municipal de Fernando Haddad (PT) realiza um programa social com essa população. Agentes do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) acuaram pessoas que estavam na Rua Barão de Piracicaba.
A operação é realizada pouco mais de uma semana depois do início do Programa Braços Abertos, da administração Haddad, que buscava alterar o paradigma com que se enxergam os dependentes que residem na cracolândia. A primeira fase da operação consistiu na desmontagem dos barracos usados como moradia nas ruas Dino Bueno e Helvétia. Em seguida os moradores foram encaminhados a hotéis alugados pela prefeitura naquela região.
O projeto prevê ainda a oferta de três refeições gratuitas por dia e a contratação para serviço de varrição e zeladoria com carga de 4 horas diárias, mais duas de qualificação e salário de R$ 15 por dia de trabalho. A operação era bem avaliada pela gestão Haddad, que esperava mais dificuldades do que as surgidas até agora, e diariamente os secretários responsáveis pelo trabalho têm feito vistorias.
Agora, porém, este trabalho pode ser colocado em risco pela operação da Secretaria de Segurança Pública de Geraldo Alckmin (PSDB). Policiais em dez viaturas do Denarc, muitos deles à paisana, atiraram balas de borracha e bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo sobre os dependentes, que foram surrados e se viram forçados a correr para tentar escapar da repressão.
De acordo com informações repassadas por um assessor do governador que esteve no local, foram realizadas duas incursões na área. Na primeira, a Polícia Civil prendeu um dependente, o que provocou a reação dos moradores locais, que teriam revidado atirando pedras contra os policiais. Mais tarde, em dez viaturas, os agentes do Denarc fizeram nova operação.
Segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo, agentes das secretarias municipal de Saúde e de Assistência Social, que não sabiam da ação, ficaram no fogo cruzado. Assim que foi informado da notícia, o secretário municipal de Direitos Humanos, Rogério Sottili, foi ao local checar a situação.
Procuradas, a Polícia Civil e a Secretaria Estadual de Segurança Pública não comentaram o episódio e informaram que estavam “apurando” a informação sobre a operação.
Não é a primeira vez que as polícias estaduais são utilizadas para reprimir dependentes. Em 2012, em parceria com o então prefeito Gilberto Kassab (PSD), Alckmin encabeçou a Operação Sufoco, que tentou afastar os dependentes químicos da região, rebatizada de Nova Luz, e que seria privatizada pela administração municipal, plano que acabou cancelado com a chegada de Haddad à prefeitura.
Na época, a operação provocou a dispersão de dependentes, nas chamadas “caravanas do crack”, o que colocou a perder o trabalho desenvolvido na área por organizações da sociedade civil. O Ministério Público Estadual e a Defensoria Pública de São Paulo investigaram abusos cometidos pela Polícia Militar.