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Saúde em Defesa da Democracia: ‘Mais do que nunca é preciso garra, é preciso energia!’

Aconteceu na noite do dia 6 de abril o ato “Saúde em Defesa da Democracia: sem democracia não tem SUS”, no auditório da Faculdade de Saúde Pública da USP, zona oeste da capital paulista.

Centenas de profissionais de diversos setores da saúde participaram do ato, que contou com a apresentação do ator Sérgio Mamberti e ilustres presenças, como os ex-ministros da saúde, Alexandre Padilha e Arthur Chioro, além de parlamentares, líderes sindicais, representantes da Frente Antimanicomial de São Paulo e membros do Levante Popular da Juventude.

Na ocasião, foi lido o manifesto em defesa do SUS, assinado por 19 entidades.

Rogério Giannini representou o SinPsi e foi chamado para falar aos presentes, em nome do sindicato e da Federação dos Trabalhadores em Seguridade Social (FETSS), do qual também é presidente.

“Estamos demarcando algo fundamental para a história da democracia no Brasil: o fato de que o SUS é de certo modo uma invenção da democracia. O processo de luta democrática no país nos anos 1970 e 1980 engendra o SUS. Não há SUS sem democracia. Se se solapa a democracia, perde-se brutalmente o SUS”, afirmou Giannini.

Marco Ackermann, representando a instituição anfitriã, comandou o descerramento da placa que substitui uma antiga, que homenageava o ex-presidente ditador Ernesto Geisel por ocasião que visita feita à faculdade em 1975.

“Queremos descerrar esta placa para dizer que não haverá mais ditadura neste país e nem vai ter golpe!”, bradou.

A presidente da Associação Paulista de Saúde Pública, a médica Marília Louvison, em sua fala, ressaltou a importância do posicionamento do movimento sanitário.

“Saúde é direito, não é mercadoria. Como docente desta casa, acho fundamental que este ato ecoe. Não admitimos retrocesso. Estamos aqui em defesa do SUS, em defesa da vida!”, alertou.

Em nome do movimento da luta antimanicomial, Moacyr Bertolino falou sobre a violação de direitos.

“Não podemos nos calar quando todo um processo democrático, construído desde 1989 em nome da liberdade, se encontra em vias de derrocada. Nossa luta é pelo SUS e também por uma democracia antimanicomial”, complementou, fazendo alusão ao 18 de maio, dia da Luta Antimanicomial, em que haverá grande mobilização às 14h, no vão livre do MASP, com a participação de profissionais, usuários e familiares dos serviços de saúde mental.

A psicologia também ganhou voz pela fala do estudante Marcos Amaral, membro do Levante Popular da Juventude.

“Precisamos reacender os movimentos populares de saúde nos bairros e nas periferias. A Saúde não vai deixar ter golpe neste país. A juventude não vai deixar ter golpe neste país”, disse. Veja aqui vídeo com a fala completa do estudante.

As palmas não foram poucas para o pronunciamento do médico Cleber Firmino, que representava a UneAfro. Negro, formado pela Escola Latino-americana de Medicina de Cuba, Cleber pediu perdão aos familiares dos mortos na ditadura militar e provocou:

“Quando começaram a aparecer essas caras pretas em profissões destinadas somente a brancos, começou o levante do ódio e do rancor”.

Não vai ter golpe!

Para o membro da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme) Leo Pinho o golpe é contra as conquistas que foram tidas com muita luta.

“Por isso os movimentos populares e sociais precisam dizer em alto e bom som: não vai ter golpe! Vai ter muita luta, mas não vai ter também a criminalização dos movimentos sociais no Brasil”, sustentou, lembrando do lançamento da Frente Parlamentar em Defesa da Reforma Psiquiátrica, que havia acontecido no mesmo dia, em Brasília (saiba mais aqui).

Gervásio Foganholi, presidente do Sindsaúde-SP, conclamou a categoria para que siga na rua lutando.

“Nós seguimos sendo resistência ao golpe e vamos redobrar a atenção nessas semanas que antecedem a votação do impeachment. Se esse golpe acontecer, vamos ver a criminalização dos movimentos sociais e entidades da Saúde”, alertou o dirigente sindical.

O ex-ministro Alexandre Padilha, atual secretário municipal de Saúde, também falou sobre a votação do impeachment.

 “Nós vamos acampar na frente do Congresso Nacional, dando conforto para que os parlamentares possam exercer seu voto pela democracia com tranquilidade”.

Ovacionado pelos trabalhadores e trabalhadoras, que pediam sua volta ao Ministério da Saúde, o ex-ministro Chioro ressaltou ser a reforma política a mãe de todos os problemas e que a esquerda está pagando um preço alto pelo que fez e pelo que não fez.

Este é um momento em que cada companheiro e companheira que tem compromisso com o futuro desse país. Sabemos o valor da democracia. Se nós temos um SUS com todas as dificuldades, ele foi construído na luta do movimento social, do movimento popular, do movimento sindical, dos trabalhadores, dos gestores, da universidade, enfrentando um conjunto de interesses que agora estão repaginados e reconfigurados sob outras articulações, do capital internacional, pois o sucesso do Brasil ameaça interesses internacionais.

Segundo Chioro, é preciso mobilização e capacidade de conversar com as pessoas, para reverter este clima de golpe político.

“O Congresso Nacional opera por várias lógicas, infelizmente, e uma delas é a exposição pública. E isso vai ser muito forte. Marcaram para um domingo uma sessão no Congresso! A manipulação é tão violenta, que a maior parte das pessoas não tem a mínima noção de quais são os motivos que estão levando o Congresso a discutir o impedimento da presidente da República. Não acreditem que esse jogo está dado. Mais do que nunca é preciso garra, é preciso energia”, exaltou o ex-ministro.

Padilha se despediu da plateia pedindo paciência e lembrando da função do SUS.

 

“Amanhã, cada paciente que entrar em nosso consultório é um motivo a mais para celebrar a democracia. Independente de sua escolha política”, encerrou.

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