“Sociólogos não são para vender ilusões, mas para abrir os olhos da classe trabalhadora”. A afirmação, seguida de aplausos, é do doutor em sociologia, Francisco de Oliveira, durante cerimônia de posse do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo (Sindsesp) ocorrida na noite dessa terça (3), na Câmara Municipal, no centro da capital paulista.
Segundo Chico de Oliveira, como ficou conhecido o pensador, entre as formas sutis do capital está a de roubar direitos dos trabalhadores, ainda que tente falsear como conquista. “Os sociólogos e a sociologia devem revelar as forças da sociedade. Devemos reclamar não dos diretos criados, mas dos direitos furtados. Quem olhar para si mesmo pode avaliar o quanto de nosso ganho está sendo repassado para as forças inimigas”, alertou.
Para debater esses e outros assuntos é que a formação de uma nova diretoria ocorre desde 2014, depois de um longo período em que o Sindsesp esteve fechado. A reabertura da entidade foi possível a partir de uma composição ampla e democrática com a Central Única de Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e Intersindical. Esta gestão funcionará até 2017.
O presidente atual do sindicato, o sociólogo André Lemos, explicou que entre as bandeiras de luta está a defesa do ensino da sociologia no nível médio, plano de cargos, criação da carreira, defesa de uma federação nacional dos sociólogos, bem como de um conselho nacional de sociologia no governo federal. “Tirar o diploma de ciências sociais, por exemplo, não garante a entrada fácil no mundo de trabalho, mas caso o trabalhador entre no mercado, dificilmente será contratado como sociólogo. Isso está em nossa pauta”.
O secretário de Relações do Trabalho da CUT/SP, Rogério Giannini, também presidente do Sindicato dos Psicólogos do Estado de São Paulo (Sinpsi), destacou a importância das entidades sindicais. “Assim como os psicólogos, os sociólogos atuam em diferentes áreas. Na hora de fazer uma representação da categoria, isso gera uma tensão, que conseguimos superar a partir da atuação de sindicatos, como na hora de negociar campanha salarial”, explicou.
Para ele, o sindicato também precisará pensar na contribuição que os trabalhadores podem dar nas políticas públicas. “A entidade tem como responsabilidade direcionar para um sentido de classe”.
Mulheres no poder
Ainda é pequena a participação de mulheres na composição da diretoria do Sindsesp, majoritariamente formada por homens. A vice-presidente Sandra Carvalho, liderança negra, é uma das quatro diretoras que compõe o quadro.
Para ela, a sociologia deve estar em todos os campos de conhecimento seja na matemática, na geografia, entre outros. “As relações sociais perpassam todas as áreas”.
Na conjuntura política, “a democratização da mídia e a reforma política no Brasil são algumas das principais bandeiras do sindicato daqui para frente”, garante a dirigente, que convidou os participantes para a luta nacional pelo Plebiscito Constituinte.
Sobre o estado de São Paulo, a dirigente considera irresponsável a atuação do governo de Geraldo Alckmin (PSDB), principalmente frente à crise hídrica. “A sociedade nem sempre perceberá as deficiências da gestão, seja na educação ou na saúde, por isso devemos criar mecanismos que ajudem nesta percepção”.
Professora e socióloga, Solange Silva dá aula na periferia da zona norte de São Paulo. Para ela, a forma de contrato também precisa mudar. “Nós da categoria ´O´ temos uma forma precária de contratação que deve ser repensada pelo sindicato, porque não temos direito a nada”.
Representante do Núcleo Impulsor Nacional para a Marcha das Mulheres Negras, Kika Silva, observou ainda que o sindicato deve priorizar atividades conjuntas com os movimentos sociais, assim como desenvolver ações sobre gênero, racismo e juventude. “A entidade deve se comprometer com os jovens trabalhadores recém-formados, especialmente os que saem das universidades privadas. É preciso identificar onde os estão os sociólogos que estão se formando aos montes”, propõe.
Construir na diversidade
“Se perguntarmos para cada sociólogo o que ele está fazendo, entenderemos a diversidade na atuação de cada um”, disse o sociólogo Ângelo D´Agostini, secretário Sindical do PT Nacional. Segundo ele, a categoria e o sindicato classista devem debater temas como a reforma política e a violência policial.
Sobre o cenário nacional, o vice-presidente da CTB, Nivaldo Santana, destacou que o país vive um momento de grandes confrontos. “Temos que buscar equilíbrio entre a luta dos trabalhadores e o desenvolvimento nacional. A refundação do sindicato é uma luz que fortalece nossa perspectiva de fazer a democracia e o progresso em nosso país”.
Secretário Geral da Intersindical, Edson Carneiro, conhecido como “Índio”, corroborou com Santana e afirmou que “a diversidade na composição da diretoria permitirá o amplo debate para melhor defender os direitos da categoria e da classe trabalhadora”.
Presidente municipal do PCdoB de São Paulo, Jamil Murad ressaltou que as profissões de nível superior ganham muito quando constituem suas diretorias aglutinando as lideranças que representam os setores progressistas da sociedade.
Murad destacou que a reforma política e a democratização dos meios de comunicação são as duas principais bandeiras atuais. “Precisamos da mobilização da sociedade, daí cobramos uma atuação ativa da diretoria”.
Já o vereador Toninho Vespoli destacou o gerenciamento da questão hídrica em São Paulo. “A população viverá períodos ainda mais difíceis, mas o sindicato pode ajudar a aprofundar respostas às perguntas da sociedade sobre esses problemas”.
Breve histórico
Em 2007, sob a gestão tucana, o estado de São Paulo se opôs às disciplinas de Filosofia e de Sociologia no ensino médio, por meio da Resolução nº92/07, do Conselho Estadual de Educação do Estado de São Paulo (CEE-SP). Isso gerou protestos e até mesmo uma Ação Civil Pública, envolvendo sindicatos e entidades contrárias ao modo de governar do PSDB.
Foi a partir da Lei nº 11.684, de junho de 2008, que as disciplinas voltaram a fazer parte do currículo, estabelecendo a obrigatoriedade do ensino das duas disciplinas. Em 2009, o ensino passou a ser obrigatório.