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Vergonha: Outro livro polêmico constrange alunos da rede estadual

Outro livro distribuído pelo governo estadual a alunos do Ensino Fundamental vem causando constrangimento a pais, alunos e professores da rede. A reunião de contos do poeta Manoel de Barros, intitulada Memórias Inventadas, foi entregue no início do ano letivo a estudantes da 6ª série. O material foi considerado por especialistas inadequado para a faixa etária escolhida: entre 11 e 12 anos.

Dos 42 contos do livro, quatro foram apontados por professores por possuírem termos de conotação sexual ou ainda palavrões. Para os pais, a escolha do livro foi um erro que precipitou a discussão da sexualidade.

“Minha filha achou o teor de alguns contos exagerado. Há termos que não devem ser aprendidos na escola. Eu sei que as crianças já falam sobre sexo e sabem o que é, mas é papel dos pais decidir quando o tema será abordado”, afirmou Maria de Lourdes Moreira, mãe da Thaís, de 11 anos. A mãe de Ricardo, 11 anos, Jaqueline dos Santos Martins, disse que agora irá checar o teor de todos os livros fornecidos pelo Estado. “Fiquei assustada. Há muitos outros livros de literatura infantil que poderiam ser utilizados, não este.”

Para a coordenadora do curso de Psicopedagogia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), Neide Noffs, a escolha foi precipitada. “Não é um conteúdo necessário para essa faixa etária. Temos muitas outras informações que são relevantes e que deveriam ter prioridade na escola”. Neide ressalta ainda que não se trata de um discurso moralista. “Alguns temas devem ser abordados com cuidado na sala de aula, especialmente contos e obras de ficção.”

Ainda assim, a especialista não questionou a qualidade do livro. “A preocupação é que assuntos como sexualidade e valores não podem ser simplesmente jogados. Eles precisam ser bem trabalhados, explicados.”

Em nota, a Secretaria de Educação explicou que o livro faz parte de um kit distribuído aos cerca de 5 milhões de alunos para estimular a leitura. A escolha, ainda segundo a nota, foi feita por “uma comissão de especialistas da Secretaria e das mais respeitadas universidades brasileiras.”

Descaso – Para Edgar Fernandes Neto, coordenador da subsede de Santo André e diretor da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), há um descaso da atual administração com a Educação. “Quem pauta os livros que são distribuídos são as editoras. Não há nenhum compromisso do governo em analisar a utilidade de um livro como este na sala de aula.” O sindicalista afirmou que o assunto será discutido na próxima assembleia da categoria, que será amanhã na Praça da República, em São Paulo.

A opinião é compartilhada pelo professor da Faculdade de Psicologia e especialista em Psicologia do Adolescente da PUC-SP, Miguel Perosa. “Se os contos forem apresentados apenas como textos literários em aula de Português, a utilização do livro é inadequada. Deve haver uma discussão da sexualidade e os professores têm de estar bem preparados porque os textos do Manoel de Barros são ótimos.”

Erros – Esta não é a primeira vez que livros distribuídos pela gestão de José Serra (PSDB) causam polêmica. Em março, a Secretaria de Educação entregou aos alunos do 6ª série do Ensino Fundamental livro de geografia que possuía dois Paraguais e excluía o Equador do mapa. Neste mês, professores denunciaram a compra do livro Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol. O material, que fala de sexo e futebol, foi enviado às escolas estaduais para servir de apoio no ensino de alunos com idade média de 9 anos, matriculados na 3ª série do Ensino Fundamental.

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