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Audiência pública nesta sexta resgatou atuação da ditadura em Sorocaba

Dirigente do SinPsi esteve presente

Como primeira ação da Comissão Municipal da Verdade, audiência pública realizada na Câmara Municipal na manhã desta sexta-feira, 28, lembrou os 50 anos do Golpe Militar. As consequências da ditadura no Brasil e a luta dos militantes sorocabanos foram temas abordados, inclusive com depoimentos.

A audiência foi mediada pelo presidente da Comissão, o vereador Izídio de Brito (PT), com a participação do relator Anselmo Neto (PP) e de um dos membros, Saulo do Afro Arts (PRP), além do vereador Carlos Leite (PT), dos deputados federal Iara Bernardi (PT) e estadual Hamilton Pereira (PT) e do psicanalista e professor de filosofia Daniel Lopes, precursor da criação da Comissão da Verdade no município.

Entre os envolvidos, que deram seus depoimentos, esteve o ex-guerrilheiro da organização Ação Libertadora Nacional (ALN), também de Francisco Gomes, o ex-vereador Osvaldo Noce e o professor Aldo Vannucchi; além da jornalista Fernanda Ikedo, autora do documentário Porque Lutamos!. Ykedo falou da obra que retrata sobre uma série de pessoas, principalmente de sorocabanos, que sofreram com o regime militar. Um trecho do vídeo foi transmitido durante a audiência.

Izídio de Brito, assim como os demais presentes, destacaram a importância da Comissão da Verdade instaurada no Município para resgatar a história do período em Sorocaba, ainda hoje desconhecida por muitos. Os trabalhos da Comissão se encerram em 31 de dezembro de 2014. Até lá deverá apurar os registros de abusos e de violação dos direitos humanos ocorridos em Sorocaba entre os anos de 1964 e 1988. Encerrado o prazo, a Comissão Municipal deverá entregar o relatório à Comissão Nacional da Verdade.

50 anos do golpe

Dentro do calendário de atividades que marcam a data estão debates no Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região e na UFSCar no dia 31, às 19h. Também na UFSCar e na Faculdade de Direito – Fadi haverá mesas de discussões no dia 1º de abril às 19h.  Já na Universidade de Sorocaba – Uniso acontece uma palestra no dia 3 de abril, também às 19horas.

Em São Paulo será realizada na segunda-feira, 31, a manifestação “Ditadura Nunca Mais”, a partir das 9 horas, em frente ao antigo Dops – Departamento de Ordem Política e Social.

O Golpe

Em 1964, militares e membros da elite conservadora conspiraram contra o presidente João Goulart e o depuseram em 31 de março daquele ano. A acusação contra o presidente eleito eram as reformas de base que ele tentava implantar no Brasil, consideradas de tendência “esquerdista” pelos golpistas. No dia 1º de abril muitas cidades brasileiras amanheceram com veículos militares transitando nas ruas, impondo aos cidadãos, através do medo, a aceitação do novo regime.

Na sequência, o governo militar decretou vários atos institucionais que eliminaram direitos civis, instalaram a censura em veículos de comunicação, obras artísticas e atividades culturais; fecharam parlamentos; restringiram a liberdade de organização e manifestação popular; iniciaram atos de perseguição, tortura e morte de opositores da ditadura.

Os militares só deixaram o poder, institucionalmente, em 1985, com a eleição indireta de José Sarney por um colégio eleitoral. A primeira eleição direta para presidente da República aconteceu somente em 1989, duas décadas e meia depois do golpe.

Ditadura no Interior

O SinPsi reafirma a importância em se destacar o início dos trabalhos da Comissão como uma conquista dos militantes e familiares que nos últimos meses lutaram e somaram esforços por sua implantação. Vinícius Saldanha, dirigente SinPsi da subsede de Sorocaba e região, esteve presente ao evento. Para ele, a Comissão Municipal da Verdade tem o papel de contribuir com a edição nacional.

“Não só ajuda a elucidar e a recontar a História do País durante a Ditadura Militar, mas também apresenta uma História desconhecida por grande parte da sociedade local, ate porque a História contada ate então comumente reproduz o discurso dos que estavam no poder na Ditadura e seus herdeiros. Além disso, é plausível que a Comissão seja presidida pelo Izídio, companheiro comprometido com o movimento sindical e com os movimentos sociais da região, como, por exemplo, a luta antimanicomial, tão marcante por aqui”, reconhece Vinícius.

É o momento de a população local se perceber como parte dessa História, entendendo como a Ditadura atuou também no interior do estado de São Paulo, em sua região, com pessoas e famílias próximas, em locais por ela reconhecidos.

“Dá-se nomes, datas, lugares, denuncia-se, investiga-se, discute-se. É importante esse reconhecimento por meio de vozes históricas, mas atuais. Vejo também como uma ocasião para fortalecer laços entre os movimentos da região”, reflete o dirigente sindical.

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