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Comissão da Verdade apura relação da FIESP e do Consulado dos EUA na ditadura brasileira

Documentos oficiais serão apresentados em audiências públicas na ALESP

A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo realiza uma série de audiências públicas para apurar a relação entre a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e do Consulado dos Estados Unidos com os órgãos de repressão que atuaram na ditadura militar. Os indícios estão em documentos oficiais que a Comissão apresentará entre os dias 18 e 28 de fevereiro.

A primeira audiência acontece nesta segunda (18), a partir das 14h, no Auditório Paulo Kobayashi da Assembleia Legislativa paulista (Av. Pedro Álvares Cabral, 201 – Ibirapuera) e contará com a participação de João Batista Gomes, secretário de Políticas Sociais da CUT São Paulo.

Ex-presos políticos e familiares de vítimas da ditadura denunciam há anos o financiamento da repressão por empresários. Citam, inclusive, a existência de uma “lista negra” com nomes de militantes sindicais que não conseguiam emprego nas corporações ligadas à FIESP.

“Para a CUT/SP, é extremamente importante averiguar os casos porque muitos companheiros, trabalhadores e sindicalistas, foram mortos e estes crimes ainda não foram apurados”, destaca João. Ele lembra que o dinheiro dos empresários financiava, ainda, grupos de extermínio como o Esquadrão da morte e outras atividades paralelas dos torturadores.

O apoio norte-americano ao golpe militar de 1964 e à manutenção da ditadura também é denunciado há tempos, sendo emblemática a Operação Brother Sam, na qual o Estados Unidos se uniu aos golpistas para garantir a saída do presidente João Goulart, incluindo aporte bélico para dar fim ao governo progressista que seguia no Brasil.

Segundo o historiador Carlos Fico, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor de O Grande Irmão – Da operação Brother Sam aos anos de chumbo, há diversos documentos do Departamento de Estado norte-americano que comprovam não só a estreita relação dos dois países na ditadura brasileira, mas que as estratégias da Operação Brother Sam teriam sido decididas um ano antes do golpe, já em 1963.

“O governo Castelo Branco foi de total alinhamento com os Estados Unidos. Há uma equação financeira de auxílio, de empréstimos, de atuação dos Estados Unidos, muito especial, muito extraordinária, junto aos bancos europeus para renegociação da dívida externa brasileira”, afirmou o pesquisador em entrevista concedida na época de lançamento de O Grande Irmão, em 2008.

Entre os casos apurados nas audiências, o de Honestino Guimarães, militante que presidiu a União Nacional dos Estudantes no início da década de 1970; de Davi Capistrano, dirigente do Partido Comunista Brasileiro, e de Paulo Stuart Wright, militante da Ação Popular – todos integram a lista de desaparecidos políticos, com restos mortais ainda não localizados.

Confira o calendário das demais audiências no mês de fevereiro:

19/02, terça-feira, 10h – Caso Aylton Mortati – Auditório Teotônio Vilela (1º andar)

20/02, quarta-feira, 15h – Caso Fernando Santa Cruz – Auditório Paulo Kobayashi (Piso Monumental)

21/02, quinta-feira, 10h – Caso Edgar Aquino Duarte – Auditório Teotônio Vilela (1º andar)

21/02, quinta-feira, 14h – Caso Dênis Casemiro – Auditório Teotônio Vilela (1º andar)

25/02, segunda-feira, 10h – Casos Ablilio Clemente Filho e Aluísio Palhano Pedreira Ferreira – Auditório Teotônio Vilela (1º andar)

26/02, terça-feira, 10h – Casos Honestino Monteiro Guimarães, José Maria Ferreira Araújo e Paulo Stuart Wright – Auditório Teotônio Vilela (1º andar)

27/02, quarta-feira, 10h – Casos Luiz Almeida Araújo, Issami Nakamura Okano – Auditório Teotônio Vilela (1º andar)

28/02, quinta-feira, a partir das 10h – Casos Davi Capistrano, Elson Costa, Hiram de Lima Pereira, João Massena Melo, José Montenegro de Lima, José Roman, Luiz Ignácio Maranhão Filho, Nestor Vera e Walter de Souza Ribeiro – Auditório Teotônio Vilela (1º andar)

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