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CurtaComPipoca mostra o protagonismo de usuários de serviço saúde mental

“Felicidade!” Foi com essa única e emblemática palavra que Aparecida Gomes, usuária do serviço de saúde mental, definiu sua participação no filme “Trajetórias de uma Crise”. O curta-metragem fez parte do projeto CurtaComPipoca, que aconteceu ontem, 17 de novembro, na sede do SinPsi, com o propósito de trazer à tona o debate sobre o sofrimento psíquico e o cinema como meio de escuta. Na ocasião também foi exibida a edição do programa Nau dos Insensatos que aborda a Economia Solidária.

Estiveram presentes psicólogos do CAPs Arco-Íris, terapeutas ocupacionais, profissionais do projeto Tear (serviço público de Saúde Mental constituído por oficinas de trabalho artesanal para pessoas em situação de sofrimento psíquico), além de técnicos de enfermagem e usuários de serviço de saúde mental.

Após as exibições, que teve a pipoca garantida, o presidente do SinPsi, Rogério Giannini, conduziu a roda de conversa. 

“É muito gratificante para o sindicato poder ceder espaço para esse tipo de projeto. Agora estamos aqui, reunidos, debatendo junto a usuários que protagonizaram ambos os filmes. Estamos aqui para ouvir de vocês, usuários e profissionais que atuam com saúde mental, como foi fazer esse trabalho. Vamos fomentar a discussão, para ter várias vozes e vários ouvidos”, disse.

Ao longo da conversa, Aparecida (foto), a da felicidade, lembrou de seus períodos de crise.

“Era péssimo. Eu ficava muito nervosa, ouvia vozes. Você quer se controlar, mas não consegue. E eles (os médicos) ficavam dando remédios e mais remédios. Um horror! Mas eu hoje estou feliz por fazer parte desse trabalho, por ter feito esse filme”, relatou.

“Trajetórias de uma Crise” levou dois meses para ser construído. Todos participaram das etapas de produção cenográfica, de figurino e de roteiro.

Para Fernanda Aguiar, psicóloga do CAPs Arco-Íris e membro do projeto Saúde e Cultura, da rede de saúde mental de Guarulhos, produzir um filme com usuários muda a perspectiva da discussão sobre saúde mental.

Protagonismo

“Mesmo quando discutimos de maneira progressista, à luz da reforma psiquiátrica, somos nós falando sobre saúde mental. Com o filme tivemos a oportunidade de o usuário se ver na tela, não só como alguém que está retratado, mas como protagonista, seja no trabalho, seja produzindo um vídeo e atuando nele”, explicou.

O protagonismo é o que há de mais importante nesse trabalho, segundo a socióloga Rose de Almeida, do projeto Tear.

“A principal perspectiva do vídeo é o desafio do protagonismo. O retrato que está ali foi construído por essas pessoas. O que está na tela foi escolhido por elas. O roteiro foi saindo a partir das ideias que os usuários iam trazendo. Não havia script, as falas saíram no improviso. E isso tem muito a ver com a luta, em relação a conquistar de fato esse protagonismo”, complementou.

Na obra, Célio Luna, que já esteve internado, dramatizou a dificuldade de ser aceito pelos pais. 

“Minha mãe dizia que eu era doido e meu pai dizia que eu não era doido nada, que eu era preguiçoso mesmo. Na verdade, não é uma coisa nem outra. Eu precisava era de ajuda e isso ficou bem claro no filme”, contou.

As próximas exibições de “Trajetórias de uma Crise” ocorrem neste domingo, dia 22, às 22h, no teatro Studio Heleny Guariba (antigo Studio 184), à Praça Roosevelt, 184, no centro de São Paulo; e dia 26, às 14h, no CAPs David Capistrano, em Campinas (Rua Salomão Gebara, 136, Vista Alegre).

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