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Entidades repudiam intenção de Temer de retornar ao modelo manicomial

São Paulo – Declarações recentes do coordenador nacional de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do Ministério da Saúde, Quirino Cordeiro, defendendo o retorno do modelo manicomial e da expansão dos leitos em hospitais psiquiátricos, motivou a realização nessa segunda-feira à noite (11) de uma manifestação de repúdio do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP-SP) e outras entidades em defesa da luta antimanicomial.

Segundo o Conselho, a posição do Ministério da Saúde demonstra “desconhecimento, desinteresse e desprezo frente aos avanços nas formas de atenção à saúde mental em busca do cuidado integral das pessoas em sofrimento psíquico, calcado em vasta quantidade de estudos e pesquisas e de experiências exitosas”.

Para o presidente do CRP-SP Aristeu Bertelli, o argumento do governo Temer sobre a fragilidade da rede de atendimento que substitui os manicômios revela negligência com a política pública em saúde mental e o sucateamento decorrido da falta de financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS). Na prática, disse ele, o retorno ao modelo antimanicomial apenas causará dor e sofrimento a quem precisa de tratamento, e lucro aos donos dos hospitais psiquiátricos.  

“É a ideia de retroagir e transformar em gado pessoas que estão sendo tratadas no território, transformar em dinheiro a partir do manicômio como forma de lucro”, afirmou Aristeu Bertelli. Na opinião do presidente do Conselho, a intenção manifestada pelo coordenador nacional de Saúde Mental se insere no contexto de desmonte das políticas públicas em marcha desde o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. “Os resultados do golpe sempre serão um retrocesso. Precisamos pensar no desmonte que estão promovendo, no sucateamento das instituições. O golpe de ontem usava a força física, o golpe de hoje usa lei e caneta e, dentro da legalidade, promove injustiça.”

Defendendo o cuidado integral à saúde e o respeito a cada indivíduo como cidadão, Moacyr Bertolino, da Frente Estadual Antimanicomial de São Paulo, disse que a proposta do governo Temer não deve ser aceita pela sociedade. “Unidade terapêutica ou hospital psiquiátrico é tudo manicômio. Não adianta mudar o nome. E o objetivo é o mesmo, dar lucro para seus proprietários”, enfatizou Bertolino. 

De acordo com Rildo Marques, do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), os manicômios são “exímios em tortura, dor e sofrimento”, além de exportarem essa dor para fora de seus muros. “Vamos empunhar sempre a bandeira contra os manicômios e para que as pessoas recebam do Estado brasileiro um tratamento digno”, afirmou Rildo Marques.

Ao final do encontro, o presidente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP-SP) anunciou que o órgão e demais entidades que atuam na luta antimanicomial farão uma manifestação de repúdio, no próximo dia 18 de setembro, às intenções do Ministério da Saúde. O ato ocorrerá em frente ao escritório da presidência da República, localizado na Avenida Paulista.

SinPsi representado

Na coletiva, Marcella Milano, representante sindical do SinPsi, fez fala breve e concisa. Afirmou que a luta antimanicomial no Brasil e no mundo é uma luta dos usuários e profissionais de saúde mental e seus familiares.

“A implementação do atual modelo, com o fim dos manicômios e a substituição por hospitais-dia e CAPS, é uma conquista imensa. Mais uma que os golpistas querem destruir”, disse Marcella.

De fato, os ataques têm acontecido de todos os lados na gestão Doria, com o Programa Redenção, o desmonte do De Braço abertos. E ainda com a reabertura dos leitos psiquiátricos pelo governo do estado e seu Programa Recomeço.

“A medida do Ministério da Saúde, aqui contestada, está inserida em um contexto mais amplo de precarização das políticas públicas, de desconstrução da atenção biopsicossocial da saúde como direito”, pontuou a representante sindical.

Marcella finalizou, explicando que a precarização das conquistas das últimas décadas, no campo da sapude mental, faz parte de uma agenda anti-democrática e impopular, em que a lógica manicomial está inserida, utilizando técnicas agressivas, como o massacre aos usuários de crack da região da Luz, no centro de São Paulo.

“Não podemos permitir nenhum direito a menos! Nenhum passo atrás! Manicômio nunca mais!”, clamou!

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