Já está no ar o site do III Seminário Internacional “A Educação Medicalizada: Reconhecer e Acolher as Diferenças”, evento promovido pelo Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, marcado para acontecer entre os dias 10 e 13 de julho, na UNIP, em São Paulo.
Colorido como deve ser a vida de uma criança que só quer ser criança, o site traz a programação completa do evento, além de informações sobre a comissão organizadora e sobre valores de inscrição. Clique aqui e confira.
A proposta é combater saberes reducionistas, no binômio médico versus medicamento, e, assim, provocar a reflexão da sociedade sobre o alto índice de crianças e adolescentes excessivamente medicalizados, em nome de mais rendimento escolar e de boa adequação aos padrões sociais. Portanto, o seminário tem como objetivo a constituição, embasada na sistematização de saberes e conhecimentos, de modos e práticas de atuar no acolhimento das pessoas que sofrem os processos de patologização de suas vidas, de seus corpos e mentes.
Membro da Comissão Organizadora do Seminário, o presidente do SinPsi, Rogério Giannini defende o combate à medicalização como uma das pautas prioritárias do sindicato.
“O enfrentamento da medicalização tem duas funções básicas: uma é do campo do debate social, defendendo interesses da população, por pensar outras formas de garantir a saúde de crianças e adolescentes, sem a patologização das relações humanas. A outra função é a de fortalecer os aspectos da psicologia, promovendo mais desenvolvimento de autonomia dos sujeitos e dos grupos”, afirma Giannini, vislumbrando a possibilidade de as políticas públicas incorporarem o saber psicológico na luta contra a medicalização da vida.
O SinPsi entende que medicina é algo muito além do que receitar medicamentos. As questões da vida social sempre foram complexas, multifatoriais e marcadas pela cultura e pelo tempo histórico. Medicalizar sujeitos por conta de suas questões é reduzir tal complexidade.
Os participantes internacionais do evento são Beatriz Janin, Gisela Untoiglich e Leon Benasayag, da Universidad de Buenos Aires; Christine Davoudian e Marie-Laure Cadart, do Collectif Pas de Zero de Conduite, na França; Luiza Cortesão, da Universidade do Porto, em Portugal; Maria Alícia Terzaghi, da Universidade de La Plata, na Argentina; Peter Conrad, da Brandeis University, nos EUA; e Steven Strauss, do Franklin Square Hospital, nos EUA.
Padronização
As sociedades ocidentais vivem processo de patologização de todas as esferas da vida, associado à busca de padronização e homogeneização dos diferentes modos de viver. A diversidade e as diferenças que caracterizam e enriquecem a humanidade são tornadas problemas. Se oculta as desigualdades, reapresentadas como doenças. Problemas de diferentes ordens são transformados em doenças, transtornos, distúrbios que escamoteiam as grandes questões políticas, sociais, culturais, afetivas que afligem a vida das pessoas. Questões coletivas são tomadas como individuais; problemas sociais e políticos são tornados biológicos.
Nesse processo, que gera sofrimento psíquico, a pessoa e sua família são responsabilizadas pelos problemas, enquanto governos, autoridades e profissionais são eximidos de suas responsabilidades.
A medicalização do campo educacional articula a judicialização das relações, dos conflitos e dificuldades que permeiam o viver em sociedade; o passo seguinte, que vem sendo atingido com grande facilidade, consiste na criminalização das diferenças, das utopias e dos questionamentos à ordem estabelecida.
A aprendizagem e os modos de ser e agir – campos de grande complexidade e diversidade – têm sido alvos preferenciais desses novos modos de vigiar e punir a diversidade, sonhos, utopias, insatisfações e questionamentos, o amálgama das transformações individuais e coletivas, da superação de preconceitos e desigualdades.
A medicalização tem assim cumprido o papel de controlar e submeter pessoas, abafando questionamentos, desconfortos, conflitos, sofrimentos; cumpre, inclusive, o papel ainda mais perverso de ocultar violências físicas e psicológicas, transformando essas pessoas em portadores de distúrbios de comportamento e de aprendizagem.
Fórum
Desde sua fundação, o Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade tem por princípios fundamentais a crítica e enfrentamento dos processos de patologização da vida e da política e o acolhimento das pessoas que sofrem e vivenciam esses processos, na defesa intransigente da diversidade e diferenças e no combate radical das desigualdades.
Neste momento, é essencial construir modos de acolher as pessoas, em toda a diversidade da humanidade, possibilitando superar as adversidades colocadas pelos modos de organização da sociedade, sustentados pela ideologia travestida de ciência que tenta a todo custo apagar as diferenças, escamotear as desigualdades e retirar a vida de cena.