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Estudo da USP mostra impacto da tributação sobre os mais ricos no PIB e nível de emprego

Os resultados indicam aumento do PIB em 2,2% no curto prazo e impacto positivo sobre nível de emprego de 3,8%

1jul2025 Por Norian Segatto

Pesquisadores do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (MADE), vinculado à Faculdade de Economia da USP (FEA-USP), apresentaram em junho a pesquisa Reformas Progressivas no Imposto de Renda: Efeitos sobre o PIB e o Emprego, que investiga o impacto de reformas de tributação de imposto de renda consideradas progressivas sobre o PIB (Produto Interno Bruto) e o emprego no Brasil. O estudo joga luz sobre o mais recente embate do governo com o Congresso, o aumento da tributação para os mais ricos e isenção para os mais pobres.

Segundo as/os autores/as Marina da Silva Sanches, Nikolas Schiozer, Tainari Taioka & Guilherme Klein Martins, foi utilizado “um conjunto de dados sobre reformas do imposto de renda de pessoa física identificadas de forma narrativa no Brasil entre 1947 e 2020, aplicamos projeções locais para estimar funções de resposta ao impulso. Os resultados indicam que reformas tributárias progressivas têm impacto positivo e estatisticamente significativo no PIB no curto prazo, com aumentos de 2,2% no ano da reforma e 3,8% no ano seguinte, enquanto medidas regressivas não apresentam efeito significativo.

“Da mesma forma”, continua o estudo, “o emprego (número de trabalhadores ocupados) responde positivamente às medidas progressivas, com um efeito estimado de 2,37%, 3,7% e 3,8% ao longo de três anos, ao passo que medidas regressivas não produzem impacto significativo em nenhum dos dois casos. Esses resultados sugerem que políticas tributárias progressivas bem desenhadas podem, simultaneamente, promover justiça social e impactar positivamente o PIB e o emprego”.

Ao longo de 12 páginas do estudo, os/as autores/as concluem que reformas progressivas (como aumento do IR para quem ganha mais e redução para as faixas menores de rendimento, tributação do IOF entre outras medidas que atual governo tenta implementar) impactam positivamente o PIB e o emprego. “Reformas progressivas, como o aumento da tributação direta sobre os mais ricos, tornam a economia mais dinâmica ao redistribuir renda de grupos com maior propensão a poupar para aqueles com maior propensão a consumir (Kalecki, 1952; Carvalho e Rezai, 2016). Essa redistribuição estimula o consumo das famílias, impulsiona o investimento privado e gera um efeito multiplicador sobre a renda (Sanches e Carvalho, 2023b; Cardoso et al. 2025), com impacto positivo sobre o PIB”, afirma o estudo, que conclui: “Um desdobramento importante desses resultados é que, mesmo em uma reforma fiscalmente neutra, o efeito sobre a demanda agregada pode ser relevante. Isso significa que uma reforma que mantém a carga tributária constante, mas torna o sistema mais progressivo, pode simultaneamente reduzir a desigualdade, elevar permanentemente a renda e reduzir a razão dívida pública/PIB”.

Clique aqui para acessar o estudo completo.

Plebiscito sobre IR e jornada de trabalho

Além da isenção de Imposto de Renda para quem recebe até 5 mil reais (cerca de 30 milhões de trabalhadores/as segundo o Dieede) e tributação maior para quem recebe acima de R$ 50 mil por mês (1% da população) outra pauta que tem movimentado o debate nacional é o projeto do fim da escala de trabalho 6×1.

A reforma trabalhista ocorrida no governo golpista de Temer (2017) abriu caminho para o aprofundamento da precarização do trabalho. A flexibilização da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) permitiu que o domingo fosse incorporado como dia útil, sem os acréscimos salariais. A medida enfraqueceu o direito ao descanso semanal preferencialmente aos domingos, afetando tanto a renda quanto a vida social do trabalhador. A jornada 6×1 tornou-se comum em diversas categorias; antes da dita reforma, exigia se compensações, como adicional de até 100% por hora trabalhada aos domingos e pelo menos um domingo de descanso mensal. Hoje, sem limites legais claros, o domingo passou a ser tratado como qualquer outro dia, o que gerou perda salarial e desestruturação da vida familiar.

Diante desse cenário, a CUT – Central Única dos Trabalhadores, está promovendo um Plebiscito Popular nacional, que irá ocorrer de junho a setembro, em todo o país, para que a população responda a duas perguntas:

  1. Você é a favor da redução da jornada de trabalho sem redução dos salários e fim da escala 6×1?
  2. Você é a favor de quem ganha mais de 50 mil por mês pague mais imposto de renda para que quem recebe até 5 mil por mês não pague?

A CUT está formando comitês populares para organizar a coleta de assinaturas e dialogar com a população sobre esses dois temas, que são essenciais para o desenvolvimento do país.   O processo do plebiscito acontece em três etapas:
1) Formação de comitês populares que ficarão responsáveis pela coleta das respostas do plebiscito em seu território;

2) Votação: Começa oficialmente em 1º de julho, com o primeiro mutirão de coleta de votos previsto entre os dias 1º e 6 de julho. A segunda mobilização ocorre de 25 a 27 de julho, seguida por um novo esforço entre os dias 29 e 31 de agosto. O ponto alto da campanha será a Semana Nacional de Mobilização, de 1º a 7 de setembro, quando estão previstas grandes votações em praças, escolas, feiras e locais de trabalho.

3) Entrega do resultado ao presidente Lula, ao Congresso Nacional e ao Superior Tribunal Federal (STF).