27fev2025 Por Norian Segatto / foto da capa José Cruz/Ag. Brasil
Os institutos de pesquisa têm apresentado uma elevação no índice de desaprovação do governo Lula. Internamente, os “estrategistas” do governo se debruçam sobre os números e tentam entender as causas, afinal, o governo tem muitos “números” positivos para apresentar: o desemprego é um dos menores dos últimos tempos; 6,5% no trimestre encerrado em janeiro (no mesmo período, em 2024, a taxa ficou em 7,6%); a inflação, apesar do terrorismo doméstico da elite da Faria Lima, se mantém sob controle.
Outros importantes dados sociais e econômicos dão conta de que o país vive uma situação muito melhor do que a do governo anterior, mas isso parece não estar sendo suficiente para alavancar a avaliação positiva do governo Lula3.
Na opinião de alguns analistas políticos, falta ao governo uma marca, como aconteceu nas gestões anteriores de Lula, lembradas pelo Bolsa Família, Fome Zero e Mais Médicos, entre outros. Também avaliam que o governo tem errado na sua interlocução com a sociedade, o que já ocasionou a queda do ex-ministro da Comunicação, Paulo Pimenta.
Agora, foi a vez de Nísia Trindade, deixar o comando da Ministério da Saúde. Apesar de ser uma gestão avaliada positivamente por vários setores, faltou ao Ministério a “marca” de gestão que aconteceu nos “Lulas” anteriores. Recomendo a leitura de uma matéria publicada pelo jornal O Estado de São Paulo, que traz uma interessante abordagem sobre a gestão de Nísia à frente do Ministério. Diversos números citados ao longo desta matéria tiveram como base a reportagem do OESP.
Terra arrasada
Nísia Trindade teve a hercúlea missão de assumir o Ministério da Saúde depois do desastre do governo Bolsonaro, que deixou o Ministério em situação pior do que as bombas de Israel fizeram em Gaza. Programas foram extintos, verbas cortadas, faltavam remédios essenciais nas farmácias populares e postos de saúde, a vacinação foi negada, boa parte do SUS privatizado pelas chamadas Organizações Sociais, enfim, Nísia encontrou um cenário desolador.
É unânime entre os especialistas que Nísia reconstruiu um ministério desmontado após gestões desastrosas nos governos Temer e Bolsonaro. “Ela pegou um ministério destruído e está entregando para seu sucessor uma pasta com projetos bem encaminhados”, afirma Lorena Guadalupe Barberia, do departamento de Ciência Política da USP, que na matéria do OESP apresenta o dado que, em média, os ministros da Saúde permanecem no cargo 500 dias, Nísia, demitida no dia 25 de fevereiro, permaneceu 786 dias à frente do Ministério.
Logo no início do governo, veio à tona a crise sanitária entre os Ianomânis, conduzida com celeridade pelo Ministério. Outra grave crise, a catástrofe no Rio Grande do Sul, também teve uma atuação eficiente do governo, mas, contaminado por uma rede de fake news de grupos bolsonaristas, ficou para muitos a impressão de ineficiência do governo federal.
O governo também não soube publicizar feitos históricos, como a recuperação dos níveis de vacinação. Em 2023, o Brasil saiu do ranking dos 20 países com mais crianças não vacinadas, o país ocupava, em 2021, o 7º. lugar. O feito, no entanto, teve pouco impacto midiático.
Atualmente, um dos algozes da saúde no Brasil é a dengue, que segue seu ritmo cíclico no Brasil. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o vírus se manifesta com maior intensidade a cada três a cinco anos, ou seja, é bem possível que até o final da década tenhamos novo surto de dengue no país. Em 2024, foram registrados mais de 6,6 milhões de casos, com mais de 6 mil óbitos. Para combater a epidemia, o Ministério da Saúde comprou todo o estoque oferecido pela empresa Takeda, único imunizante aprovado pela Anvisa, mas a companhia japonesa não conseguiu entregar todos os lotes, o que obrigou o governo a definir um grupo prioritário em vez de uma vacinação em massa. O Brasil foi o primeiro país a incorporar o imunizante na rede pública de saúde, mas também isso não repercutiu na mídia.
No caso da dengue, vale lembrar que a Controladoria Geral do Município de São Paulo investiga denúncias de que a falta de manutenção das armadilhas contra a dengue compradas pela prefeitura, com valores superfaturados, transformou o dispositivo em um proliferador do mosquito Aedes aegypti, em 2024 houve um aumento de 5.000% dos casos na cidade.

Para Fernanda Magano, presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e diretora do SinPsi, Nísia Trindade “cumpriu esses dois anos com muito esforço para superar a herança que recebeu. Ela cumpriu seu papel, mas tem toda a pressão do Congresso. A substituição vem na lógica de uma política macro, na mudança de poder na Câmara e no Senado e nas eleições de 2026″, afirmou à reportagem do Estadão.
O que esperar com Padilha
Para substituir Nísia Trindade, Lula escolheu o experiente Alexandre Padilha, que ocupava o cargo de ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais. Padilha já foi ministro da Saúde nos governos Lula (2009/2010) e Dilma (2011/2014). Pesa a seu favor, o maior traquejo político no trato com o Congresso Nacional e ser considerado o “pai” do Mais Médicos, um dos programas de maior repercussão no Ministério.
Fernanda Magano, acredita na continuidade do diálogo entre governo e mecanismos do controle social e a manutenção de projetos já existentes, como a garantia da realização da 17ª Conferência Nacional de Saúde e recursos para implementação da 715/2023, do CNS, que dispõe sobre as orientações estratégicas para o Plano Plurianual e o Plano Nacional de Saúde de 2024-2027.