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ONU Brasil celebra conclusão de projeto para a formação política de pessoas trans

A primeira turma do Projeto Trans-Formação celebrou sua formatura na terça-feira (11), na Casa da ONU, em Brasília. Ao longo de cinco meses, a iniciativa reuniu 24 pessoas trans do Distrito Federal e do Entorno em encontros quinzenais. Reuniões debateram temas como identidade de gênero e desigualdades, políticas públicas, empregabilidade, participação social e autocuidado entre ativistas.

O evento na sede nacional das Nações Unidas marcou o encerramento de um ciclo de aprendizado que foi também uma oportunidade de formação política. Implementada pela ONU Brasil, no marco da campanha “Livres & Iguais”, a Trans-Formação foi concebida para promover o empoderamento de uma nova geração de pessoas trans, bem como o fortalecimento de redes locais de ativismo.

O projeto contou com a parceria da RedeTrans Brasil, da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), do Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT), ANAV-Trans, do coletivo Corpolítica e da Comissão Luís Gama de Direitos Fundamentais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)/Taguatinga.

Conheça algumas das histórias da 1ª Trans-Formação

Santa Maria, Águas Claras, Sudoeste, Itapoã, Recanto das Emas, Águas Lindas de Goiás, Planaltina, Vicente Pires, Estrutural. Esses são alguns dos lugares de onde vieram os 24 participantes do Projeto Trans-Formação. Para quem não mora no DF, os nomes dessas regiões não vêm à mente quando se pensa na unidade federativa onde está localizada a capital do país.

Durante os mais de seis meses de planejamento da Trans-Formação, uma das preocupações da coordenação era a de que os territórios fora de Brasília não fossem alcançados por uma iniciativa da ONU.

“A cooperação com as redes de pessoas trans locais e nacionais e com os órgãos que realizavam, na ponta, o atendimento à população que queríamos envolver, como o CREAS (sigla para Centro de Referência Especializado de Assistência Social) da Diversidade, foi fundamental para contornar essa dificuldade, garantindo que a 1ª Trans-Formação fosse o mais horizontal, acessível e abrangente possível”, afirma a assessora de direitos humanos da ONU Brasil, Ângela Pires, uma das coordenadoras do projeto.

Outros incentivos e decisões também contribuíram para a democratização do projeto. Para os encontros quinzenais, foi escolhido um local central e acessível por meio do transporte público. Participantes também receberam um auxílio-transporte — por meio de uma parceria da iniciativa com o Metrô Solidário do DF — e alimentação.

O resultado desses esforços foi uma turma diversa, com diferentes perfis sociodemográficos e trajetórias de vida. Essa edição do Trans-Formação mobilizou, como participantes, 13 mulheres transexuais, 7 homens trans, 2 travestis e 2 pessoas não-binárias, de 14 regiões administrativas do Distrito Federal.

Muitos deles compartilhavam a mesma história de evasão escolar e desemprego. Outros relatavam a dificuldade de se inserir no mercado de trabalho após a transição, mesmo possuindo qualificação técnica e experiência profissional suficiente. Alguns estavam cursando a universidade ou até já possuíam alguma pós-graduação.

Enquanto alguns participantes já tinham experiência com ativismo, outras davam ainda os primeiros passos para se colocarem publicamente como pessoas trans. A possibilidade de contar com o apoio da família também estava longe de ser unânime. Da Asa Norte de Brasília ou de Águas Lindas de Goiás, todos compartilhavam pelo menos uma característica: o fato de se identificarem como transexuais.

Uma iniciativa inédita para promover o ativismo local

O Brasil já conta com iniciativas pontuais para a inclusão social da população trans. A 1ª Trans-Formação se inspirou nas experiências anteriores do Damas, no Rio de Janeiro, e do Transcidadania, em São Paulo. A metodologia também foi baseada em outros projetos do próprio sistema ONU no Brasil, como o Jovens Mulheres Líderes, e em modelos de formação popular, como o Promotoras Legais Populares.

Com essas referências, a equipe de coordenação montou um projeto inédito com o objetivo de promover o empoderamento pessoal e a formação política de pessoas trans, fomentando o ativismo local.

Por meio de um concorrido processo seletivo, com chamada publicada em edital, foram selecionadas 24 pessoas trans do DF e Entorno, cujos perfis indicavam interesse ou experiência prévia com ativismo pela igualdade de direitos da população LGBTI. Os interessados tinham de enviar um vídeo ou uma carta de apresentação contando por que queriam participar do programa, como iriam contribuir para a atividade e o que esperavam alcançar após a formação.

Além dos encontros que ocorriam a cada duas semanas, a 1ª Trans-Formação contou com um Programa de Mentorias, por meio do qual os participantes foram colocados em contato com indivíduos de diversas áreas de conhecimento e atuação institucional.

Profissionais da academia, do meio jurídico, da saúde, do serviço social, da segurança pública, da educação, dos direitos humanos, de embaixadas
e organismos internacionais e de organizações da sociedade civil aceitaram o convite da ONU e voluntariamente doaram um pouco do seu tempo, de suas histórias de vida e do seu trabalho para somar forças com os participantes do projeto.

O saldo foi positivo para ambos os lados: a transformação não foi observada não apenas entre os e as ativistas trans, mas também entre mentores e mentoras. Nos encontros que tiveram, caminhos aparentemente distintos se encontravam, abrindo novos espaços para parcerias, trocas e aprendizado mútuo.

O contato com os mentores criou um ambiente fértil para projetos e atividades. Participantes do Trans-Formação se uniram para promover rodas de conversa, uma exposição fotográfica e eventos de celebração do Dia Internacional contra a Homofobia e a Transfobia.

Com o projeto, alguns participantes conseguiram definir com mais clareza as atividades profissionais a que querem se dedicar. Outros adquiriram uma compreensão mais complexa sobre a história do movimento trans e sobre a construção dos processos políticos. Alguns comemoram conquistas pequenas, mas significativas, obtidas durante a iniciativa, como a reaproximação da família e ter o nome social finalmente respeitado por mães, pais, tios e avós.

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