Notícias

Orgulho de quê?

Não nascemos com orgulho de ser LGBT, mas temos que ter orgulho para sobreviver e lutar para existir

O dia 28 de Junho, dia internacional do orgulho LGBT+, é celebrado pelo marco ocorrido em 1969, em Nova York, onde manifestantes, em sua maioria travestis, resistiram a uma batida policial no mais famoso bar LGBT+ da cidade. Esse foi o primeiro de vários manifestos em defesa dos direitos da população, chamado de revolta de Stone Wall.

Já em 2018, o Brasil ocupa o primeiro lugar em assassinatos de pessoas LGBT+ no mundo, segundo relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB). Só em 2017 foram 435 assassinatos, um a cada 19 horas. Diante deste contexto, eis que paira a pergunta: orgulho de quê?

E não para por aí: “Cura Gay”, “Ideologia de gênero”, patologização da identidade trans, falta de acesso à saúde e mercado de trabalho, são algumas das formas de expressão de um mundo que é feito por e para heterossexuais, mais especificamente, heterossexuais, cisgenero e do sexo masculino.

Mesmo antes de nascermos, vamos sendo condicionados a heterossexualidade e/ou cisgeneridade de diversas formas, algumas veladas, algumas bastante violentas, que nos impulsiona ou desalenta no movimento da vida. 
 
Em contrapartida, temos cada vez mais pessoas estão podendo expressar as diferenças, como também tem espaços e representações de si mesmo em posições nunca vistas, como por exemplo a parada Lgbt do Brasil sendo uma das maiores do mundo e Pablo Vittar com sua performance Drag alcançando espaços da mídia onde pouco eram aceitos em sua integralidade.

Durante muito tempo, esse modelo de sociedade voltado para a heterossexualidade fez com que as pessoas com identidades e sexualidades diversas, fossem violentamente impulsionadas a terem vergonha de ser quem se é, diminuindo a potência de sua existência, trazendo o armário como regulador de suas possibilidades ou sendo obrigadas a aceitarem trabalhos marginalizados como na prostituição, entre muitas outras formas de anulação e apagamento de suas vivências, muitas vezes vivenciando uma invisibilidade.
 
Foram com esses sentimentos que a necessidade de se ter orgulho de ser quem é necessária, sentimentos que fizeram as pessoas de Stone Wall se revoltarem e reivindicarem seu lugar de diferente no mundo, lugar de direitos, necessidade de existir para além de um bar, para além da noite, para além de assassinatos a luz do dia, como foi a morte de Dandara em Fevereiro de 2017 em Fortaleza. Não nascemos com orgulho de ser LGBT, mas temos que ter orgulho para sobreviver e lutar para existir.

No entanto, essa construção da noção ou sentimento de orgulho é um assunto bem complexo e está diretamente  e sistematicamente com a regulação de uma sociedade heternormativa, apontando para o que Sedgwick (2007) chama de epistemologia do armário, que impõe ambiguidades de poder, dor, exclusão e violência, mas deixa exposto sua contradição e a possibilidade de questionamento como norma.

Possa ser que esse regulador recaia sobre a diferença da norma por muitas vezes como sofrimento e violência, ao mesmo tempo que se altere e se deforme em cada contexto e singularidade, mas este orgulho de ser quem se é promove uma incursão sobre o questionamento dessa norma, necessária como combustível da existência e do poder ser.

Bibliografia

SEDGWICK, E. A epistemologia do arma?rio. Cad. Pagu, n. 28, p. 19-54, 2007 (anexo)

Deixe um comentário