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Paciente de clínica é deixada em ponto de ônibus

A Polícia Civil vai apurar em que circunstâncias a paciente Daniele Silva da Costa, 21 anos, que estava internada numa clínica para dependentes químicos em Alumínio, foi deixada ontem à tarde num ponto de ônibus do Jardim Nova Manchester pelo próprio diretor da unidade de recuperação. Este negou a situação de abandono e disse que a deixou naquele local porque era desejo dela sair da clínica. 

O caso chegou à polícia depois que uma mulher, que assistiu à cena da jovem sendo deixada com malas, cobertas e um travesseiro, se aproximou para perguntar porque ela chorava tanto. Aparentando estar dopada, segundo a denunciante, Daniele foi levada para o Plantão Sul e depois encaminhada para o Serviço de Obras Sociais (SOS). O diretor da clínica, denominada Centro Terapêutico de Alumínio, Valter Lattanzio, negou que jovem estivesse dopada. Ele também é diretor do Centro Terapêutico Araçoiaba, em Araçoiaba da Serra. 

O fato chegou ao conhecimento policial em torno das 11h30, quando a viatura ocupada pelo tenente Leandro Carvalheiro, do 7º Batalhão, foi interceptada por uma dona de casa que preferiu não ter o nome divulgado. Essa testemunha relatou que momentos antes aquela jovem, depois identificada como Daniele, havia sido deixada no ponto de ônibus da avenida Armando Pannunzio, por dois homens que ocupavam um “carro branco de luxo”. Essa testemunha disse ter visto os homens saírem do carro e retirarem do porta-malas duas malas, três sacolas, duas cobertas e um travesseiro, além de uma caixa de Sedex, e em seguida retirarem a jovem do banco traseiro. 

Ainda segundo a testemunha, a situação não seria estranha caso após a saída do veículo, a moça não começasse a chorar abraçada às cobertas. “Fui até ela e ela me perguntou se aqui (Sorocaba) era Salto ou São Paulo, e contou que era paciente da clínica para tratamento de drogados em Alumínio e que seria levada para outra unidade em Araçoiaba, mas que a haviam deixando ali”. Daniele, que é natural de Cubatão, também teria falado da filha de um ano de idade. 

Diretor nega acusações 

O diretor do Centro Terapêutico Alumínio afirmou se tratar de uma paciente voluntária internada numa comunidade terapêutica, que pediu desistência do tratamento, o qual, segundo ele era gratuito, e que por isso ele a trouxe até Sorocaba para ela retornar para sua casa, dando-lhe para isso R$ 87. Ele também disse que por se tratar de uma “autointernante” não haveria obrigação de sua parte em lhe dar dinheiro, além do que, pelo fato de ela ser maior de idade e sem retardo mental, não haveria erro em deixá-la no ponto de ônibus. “Quando prende na clínica é cárcere privado, e quando põe no ponto de ônibus, é abandono”, desabafou. 

Sobre a falta de documentos e de dinheiro não localizados pela polícia em poder da paciente, Lattanzio comentou que a clínica não fica com documentos em caso de internação voluntária e que “o que ela fez com o dinheiro não sei”. Em relação à denúncia de que ela teria sido dopada, o diretor respondeu que ela não fazia uso de medicamentos, e sobre seu estado de sonolência excessiva, questionou: “Ator não interpreta? Dependente químico é a mesma coisa.” 

SinPsi condena

O SinPsi condena o fato, porque entende as Comunidades Terapêuticas para usuários de drogas como um retrocesso para a Reforma Psiquiátrica. São instituiçõees que seguem a mesma lógica de segregaçao dos hospitais psiquiátricos, agora com uma nova roupagem.

“Nos posicionamos contra todas as ações de saúde que tratem os usuários de álcool e outras drogas em instituições com privação de liberdade, alheias às políticas públicas de saúde e assistência social e que estigmatizam os usuários como se não fossem capazes ou dignos de falar sobre a própria condição, de ter os direitos assegurados e de exercer a cidadania”, comenta Vinícius Saldanha, diretor do SinPsi e morador de Sorocaba.

O dirigente ressalta que, apesar do ocorrido, Sorocaba tem evoluído de maneira significativa na Saúde Mental, reflexo da Luta Antimanicomial que sensibilizou as esferas governamentais para a implantação de um modelo inclusivo.

“flagrantes como esse não combinam mais e não devem mais ter espaço por aqui”, reflete.

 

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