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Uma homenagem necessária: Eduardo Collen Leite, o Comandante Bacuri, é cidadão paulistano

O meu amigo Luis Augusto Simon, o Menon, acaba de colocar no seu bom blog um texto sobre a homenagem que Eduardo Collen Leite, o Comandante Bacuri, recebeu na terça-feira (7) na Câmara Municipal de São Paulo, 40 anos após a sua morte.

Agora Bacuri é cidadão paulistano. Veja a seguir o texto do Menon, que, entre outras coisas, lembra da cumplicidade que os veículos de comunicação tinham com a ditadura militar.

**O mineiro Eduardo Collen Leite, nascido em Campo Belo no dia 28/8/1945, é, desde ontem, cidadão paulistano. A homenagem, por decisão dos vereadores Juliana Cardoso e Ítalo Cardoso, ambos do PT, foi realizada ontem, no plenário Primeiro de Maio, da Câmara Municipal de São Paulo. O diploma foi entregue à Denise Crispim Perez, viúva de Eduardo Leite, o comandante Bacuri, exatos 40 anos de sua morte.

Técnico em telefonia, Bacuri estudou em São Paulo, onde serviu o exército, em 1967. Depois participou de organizações de esquerda como a Polop, a Vanguarda Popular Revolucionária, a Rede (Rede Democrática) e a Aliança Libertadora Nacional.

A morte de Bacuri foi uma das mais bestiais cometidas pela ditadura. Ele foi preso no Rio, em 21 de agosto de 1970, no Rio, e transferido para São Paulo. Foi torturado por 109 dias. A tortura física não se compara à psicológica, que sofreu em 25 de outubro. Nesse dia, os jornais publicaram a morte de Joaquim Câmara Ferreira, comandante da ALN e também a fuga de Bacuri. Fuga inexistente, pois ele mal podia andar. O jornal foi mostrado a ele e, a partir daí, soube que seria morto.

Em 7 de dezembro, o cônsul da Suíça, Giovanni Enrico Bucher, foi sequestrado em São Paulo. A ideia era fazer com que Bacuri fizesse parte da lista de combatentes que seriam soltos em troca da liberdade de Bucher. Fleury não permitiria a soltura de Bacuri, que mal podia andar. Ficaria explícita a prática de tortura. Então, em São Sebastião, ele foi morto. E no dia 9 de dezembro, a Folha da Tarde, do Grupo Frias, aquele que fala em ditabranda, publicou a versão mentirosa de que Bacuri, que estava “foragido desde o dia 25″ havia sido morto em combate.

Na sessão de ontem, Reinaldo Morano, preso político na mesma época de Bacuri, contou como foi a saída dele da prisão. “Soubemos que ele havia recebido o jornal que noticiava a sua fuga. E ficamos alertas porque estava claro que ele sairia da prisão para a morte. Ele ficava na cela do “fundão” e nós mais para a frente. Ficamos em plantão no dia 26, em duplas, sem dormir, para tentar denunciar a sua saída. No primeiro dia, nada aconteceu. Mantivemos o plantão no dia seguinte. Então, os soldados chegaram. Ele saiu carregado e uma colega gritou Eduardo fala comigo, ele apenas olhou. Saiu de cabeça alta, apesar de não estar andando bem. Nós ficamos por mais de uma hora fazendo um barulho enorme, batendo com canecas nas grades da cela. Ninguém veio nos repreender, ninguém veio falar nada conosco. Bacuri saiu e sabia que estava indo para a morte. “

Foi levado para Bertioga e, daí, para o fim.

Ivan Seixas, presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, fez um discurso emocionante. “Quero dizer aos parentes de Bacuri que aqui estão, é um grande brasileiro. Um herói da Pátria. Ele é tão grande que continuamos falando dele no presente e não no passado. Ele continua vivo. Os que o mataram, não. Estão mortos. São ratos. Não são seres humanos.”.

A sessão terminou com o grito de “Companheiro Bacuri, presente. Companheiro Bacuri, presente. Agora, e sempre”.**

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