Notícias

Copa da Inclusão começa em grande estilo e se firma como espaço de protagonismo dos usuários

O Rio de Janeiro pode até ser o centro das atenções nessas semanas de Olimpíadas, mas é em São Paulo que acontece até 16 de setembro a XV Copa da Inclusão, o grande evento esportivo e cultural de usuários dos serviços de saúde mental, álcool e outras drogas. E com tudo o que tem direito: preparador físico, fisioterapeuta e até cerimônia de abertura emocionante.

O SinPsi apoia a iniciativa e esteve presente no primeiro dia, 12 de agosto, no Sesc Interlagos, que sedia pela primeira vez a Copa da Inclusão. Antes o evento acontecia no Sesc Itaquera, mas a unidade passa por reformas. A expectativa é de receber mais de 2 mil pessoas.

Mais do que um evento esportivo, a Copa da Inclusão, organizada pela ONG Sã Consciência, está no campo do empoderamento. O objetivo maior de todos os envolvidos é fazer dos usuários protagonistas. Pela perspectiva da Luta Antimanicomial, a Copa ilustra a consolidação da Reforma Psiquiátrica, do tratamento em liberdade.

Logo cedo, muitos usuários já se vestiam e se concentravam, treinando com bolas. O SECCO FÓ, da Freguesia do Ó, era um dos mais animados. O time de futsal já estava preparado para entrar em campo mesmo antes do início da abertura e muitos usuários deram depoimentos.

“É muito bom jogar. Tenho várias medalhas, me sinto uma pessoa melhor, me sinto querido!” – Claudio Santos.

 “Sou atacante, faço gols. Nós, do SECCO FÓ, já ganhamos quatro medalhas no futebol.” – João de Brito.

“Eu rodo a quadra jogando. O importante é conhecer novos lugares e fazer novas amizades. Com o espírito esportivo a gente fica mais bem-humorado, mais contente, e a vida fica melhor.” – Ronaldo Domingues.

“Estou participando pela primeira vez e não vejo a hora de jogar!” – Walter Santana.

Roseli Gouveia, acompanhante de Walter, já conhecia o evento.

“Só o fato de os usuários interagirem com outras pessoas, se socializarem, é um ganho muito alto para eles. Inclusão é a palavra!”, afirmou a profissional, que trabalha como acompanhante há seis anos e diz tratar-se de um aprendizado diário.

Abertura com desfile

Na cerimônia de abertura, cada equipe desfilou segurando placa com o nome da sua unidade de serviço, ao som da emblemática música Carruagem de Fogo (clique aqui para ouvir). Muitos entoavam gritos de guerra e teve equipe que levou até balões coloridos, dando o tom de beleza da festa. Após o desfile, houve execução do Hino Nacional.

Ed Otsuka, psicólogo da Frente Antimanicomial de São Paulo à frente do evento, fez a fala de abertura. Em seguida contou como surgiu a ideia da Copa:

“Foi um projeto de quando eu era universitário. Estagiava no CAPs Perdizes e resolvi, com uma equipe, atender uma demanda dos usuários. É um evento bem cansativo, mas de imensa satisfação. O ano inteiro os usuários perguntam pela Copa e isso gratifica qualquer esforço que a gente faz. É muito bom vê-los exigindo a participação dos trabalhadores. Mas ainda falta haver outras iniciativas desse tipo. A Copa da Inclusão reflete uma escassez de espaços semelhantes e por isso acaba sendo símbolo de resistência”, explicou Ed, dizendo que o evento esportivo não conta com apoio oficial de instituições públicas, o que acabou deixando de fora alguns serviços da rede de saúde mental.

Mas muitas equipes puderam contar com auxílio de pessoas físicas que abraçam a causa. Foi o caso da equipe do CAPs Infantil II M’Boi Mirim, que fez parcerias para receber os uniformes e os lanches.

“É o terceiro ano consecutivo que o nosso CAPs participa. Em 2014, já iniciamos nos consagrando campeões do futsal. Nosso time tem usuários entre 11 e 17 anos. Também teremos participantes nos jogos de tabuleiros”, destacou o educador físico Levi Torres, frisando a importância da Copa como uma ação externa. “É uma terapia fora do CAPs. Alguns usuários se prepararam meses para isso. O evento envolve escolas e família também. Muitos nunca estiveram em um Sesc. Estamos aqui também trabalhando autoestima e independência”, disse.

A psicóloga do CAPs AD Guaianases, Tamiris Reis (na foto com os usuários), está pela primeira vez na Copa e tem grandes expectativas para os dias que se seguem.

“A reforma psiquiátrica é aqui e agora. Para nós, psicólogos, que estudamos a questão do antes, do durante e da percepção de futuro, isso fica muito claro. O nosso CAPs é de álcool e outras drogas. Muitos usuários, em plena sexta-feira, procuram o uso, por ser o começo do fim de semana. Então, para eles é uma motivação estar aqui, para dar continuidade à recuperação, para estar limpo”, analisou.

A Copa da Inclusão conta com a participação de mais de 100 unidades dos serviços e acontece todas as sextas-feiras, com feira de geração de renda, futsal, jogos de tabuleiros, show de talentos, atletismo, dominó, jogos de rua, flag football, coral, teatro do oprimido, contação de histórias, dança e outras atividades.

No dia 26 de agosto, às 13h, haverá a mesa de debate “Saúde Mental e Sociedade: lutas, desafios e emancipação”, com Roberto Tykanori, Paulo Amarante e Rogério Giannini.

O Sesc Interlagos fica à Avenida Manuel Alves Soares, 1100, Parque Colonial, zona sul de São Paulo.

Confira aqui a programação completa.

Deixe um comentário