26mar2024 – Por Norian Segatto
O Giqe – Grupo Interinstitucional Queixa Escolar, formado por psicólogas de diversas áreas, completou 20 anos de atividades e para comemorar a data promoveu seu 5º Encontro Interinstitucional de Atendimento Psicológico. O evento aconteceu dias 22 e 23 de março, em uma universidade em São Paulo.
O Giqe se define como um coletivo autogestionado, que tem um “entendimento crítico da educação e da sociedade, contrapondo-se a processos individualizantes, que patologizam ou culpabilizam estudantes, suas famílias e seus educadores”. Nesses 20 anos de atuação, o grupo tem focado em realizar estudos, debates, ações em conjunto com outras instituições, implementações de ações coletivas junto ao poder público.
As próprias membras do Giqe se definem como “formigas”, batalhadoras diárias (muitas vezes silenciosas), que vão tecendo os caminhos de uma Educação mais inclusiva e não patologizante. Há muitos anos, o SinPsi é parceiro do Giqe nos diversos campos de atuação.
Memória da pandemia
Assim, nada mais natural do o 5º Encontro contar, na mesa de abertura, com o presidente do Sindicato, Rogério Giannini. Em sua intervenção, Rogério reforçou a necessidade de mantermos a memória dos mortos pela covid-19. “No início contávamos as mortes de uma por uma, dez por dez, depois passaram a ser de mil por mil, cem mil, duzentos mil e se chegou a 700 mil mortos, mas uma revisão que está sendo feita desses números pode indicar que o Brasil passou de 1 milhão de mortes pela pandemia. Isso tem nome, é genocídio e tem que ser lembrado”, afirmou.
Giannini destacou, também, a necessidade de continuar a se defender a democracia, que ainda está sob ameaça, mesmo que o núcleo do poder não esteja mais diretamente sob o controle da extrema direita.
O primeiro dia de atividades do Encontro terminou com a conferência “Psicologia e Educação: urgências e insurgências”, ministrada pela professora do Instituto de Psicologia da USP, Marilene Proença de Souza.
A parte da manhã do segundo dia do Encontro foi dedicado a rodas de conversas, em uma ampla programação com dez Grupos de Discussão Temáticos (GDT). A diretora do SinPsi e membra da mesa diretora do Conselho Nacional de Saúde, Fernanda Magano, foi a convidada para apresentar o tema Cuidando de quem cuida: condições de contratação e trabalho das psicólogas que lidam com queixas escolares. Clique aqui para conhecer a programação completa das atividades e palestrantes.
Cuidar de quem cuida
Fernanda fez um amplo painel das lutas sindicais nas diversas frentes de defesa da categoria, entre eles as recentes contratações de psicólogas para atuar nas escolas do estado de São Paulo, em um processo sem discussão com os órgãos da categoria, sem um mínimo planejamento pedagógico e de método de trabalho e entregue a uma empresa privada (Med Mais), que não possui experiência na área.
Ela destacou que o trabalho é um processo social, que quando não está sob garantias mínimas, “vai produzindo um processo de adoecimento, então, quando falamos no cuidado com a contratação, devemos pensar nos cuidados com esses profissionais”.
A exemplo do presidente do SinPsi, Magano também enfatizou a necessidade de defender e aprofundar a democracia. “A Constituição está praticamente rasgada e não adianta falar genericamente em defender a democracia, quando a Saúde, a Educação e outras áreas estão ainda muito precarizadas”. Fernanda também destacou várias lutas específicas da categoria, como a jornada de 30 horas, sistemas de contratação mais transparente e como as várias entidades se mobilizam nessa batalha pela melhoria das condições de trabalho.
O período da tarde foi reservado para que os Grupos apresentassem suas conclusões e apontassem as perspectivas de atuação do Giqe para o próximo período. Não faltaram propostas, projetos e desafios, o que é uma garantia que as formigas do Giqe terão muito trabalho pela frente.