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Mulheres são a cara da Psicologia que revoluciona a sociedade

Nove entre 10 profissionais de psicologia no Brasil são mulheres, segundo dados do Conselho Federal de Psicologia. Essa absoluta predominância feminina na profissão tem impactos positivos para a sociedade e, por vezes, negativos para a categoria, que ainda sofre a discriminação e desigualdades expressas nessa própria sociedade: assédio moral no mundo do trabalho, menor remuneração e oportunidade de ascensão profissional, violência doméstica, abusos machistas e misóginos entre tantas outras situações.  

Enquanto ciência, por sua vocação em defensa dos direitos humanos, a Psicologia problematiza a situação da mulher e sua inserção nos diversos papéis desempenhados na sociedade.

E assim se estabelece o duplo diálogo dialético, ao mesmo tempo em que se busca “soluções” coletivas para o mal-estar da sociedade (a citação a Freud é proposital), as mulheres (incluindo nós psicólogas) também são vítimas dessa própria sociedade, individual e coletivamente. Ao nos defrontarmos diariamente com diversas formas de opressão buscamos, por meio do conhecimento científico da Psicologia, mas também, pela sensibilidade e vivência de cada uma. Esse conjunto de enfrentamentos vai removendo tardiamente as amarras patriarcais do capitalismo ocidental.

Essa é uma luta constante. A igualdade de oportunidades e respeito no mundo do trabalho ainda estão longe de serem plenamente obtidos; a proteção à dignidade das mulheres teve significativos avanços com a Constituição de 1988, a reforma do Código Civil e a Lei Maria da Penha, mas ainda é assustador os índices de feminicídio no Brasil. Em 2019 ocorreram 3.739 casos de homicídios, dos quais 1.314 classificados como feminicídio, 7,3% a mais do que no ano anterior.

No campo da representação política também houve avanços: as mulheres estão mais presentes nas esferas de decisão política (assembleias e câmara federal) e muitas organizações, como os sindicatos, estabelecem cotas de participação mínima das mulheres nas suas diretorias. Mesmo assim, ainda é gritante a sub-representação nessas esferas de poder, há muito o que se avançar.

8 de março

Ato na Avenida Paulista, 2019

A origem do 8 de março como marco da luta das mulheres ainda é controversa, mas a versão mais aceita é de que a data foi estabelecida em homenagem a 130 operárias mortas em um incêndio em uma fábrica têxtil em Nova Iorque, em 1911, durante uma greve. O 8 de março é comemorado oficialmente como Dia Internacional das Mulheres desde 1921.

Para a diretora do SinPsi, Valdeluce Freitas, a data se renova a cada ano com novas reivindicações, que se alinham às históricas bandeiras de luta. “Somos mulheres batalhadoras, fortes, que não se deixam abater pelas dificuldades, apesar do difícil cenário de pandemia, do machismo e da misoginia. Enfrentamos reformas políticas que prejudicaram ainda mais nossas vidas, como a reforma trabalhista e a da Previdência. Na pandemia, muitas mulheres deixaram seus empregos para cuidar de familiares, pois essa atividade ainda não é dividida entre os membros da família sobrando muitas vezes esses cuidados as mulheres, portanto, neste 8 de março vamos reivindicar nossa vontade e desejo de termos um país melhor, com qualidade de vida, saúde, com igualdade e justiça social. Bolsonaro nunca mais!  Por um Brasil sem racismo, machismo e fome”.  

Diretoras do SinPsi em manifestação do 8 de março (antes da pandemia)

O relatório “Sem Parar – O trabalho e a vida das mulheres na pandemia”, produzido pelo Gênero e Número e SOF – Sempreviva Organização Feminista, realizado entre abril e maio de 2020, já apontava que 50% das mulheres passaram a se responsabilizar pelo cuidado de alguém na pandemia. Entre as que cuidam de crianças, 72% afirmaram que aumentou a necessidade de monitoramento dentro do domicílio.  Essa responsabilização pelos cuidados da casa e dos membros da família – como crianças e idosos – ficou ainda mais presente na pandemia, o que dificultou a participação da mulher no mercado de trabalho. Clique aqui para baixar o relatório completo.

Segundo a técnica da subseção do Dieese da CUT Nacional, Adriana Marcolino, podemos observar também que as características negativas da participação das mulheres no mercado de trabalho foram aprofundadas na pandemia.

Cuidar da profissão e das pessoas

Para podermos cuidar das pessoas e modificar a sociedade, rumo a uma dinâmica igualitária das relações sociais, temos de ter valorização profissional, condições de trabalho dignas, respeito pessoal e profissional.

É isso o que busca o Sindicato: negociar constantemente com as entidades patronais para avançar na melhoria das condições de trabalho; atuar junto às esferas de poder para aprovar leis (como a da jornada de 30 horas) que fortaleçam a atuação da Psicologia, lutar, em conjunto com outras entidades, para evitar retrocessos nas conquistas trabalhistas e sociais, denunciar abusos, refletir e problematizar sobre os principais temas nacionais, atuar para que individualmente as pessoas possam ter assistência do estado e respeito. “Por isso travamos batalhas diárias pelas políticas antimanicomiais, pela jornada de 30 horas, por salário e condições dignas de trabalho, pela valorização do SUS, contra os retrocessos que o desgoverno Bolsonaro diariamente tenta implementar, alimentando o ódio, o machismo e a misoginia. Somos contra esse governo porque somos a favor da vida”, afirma a presidenta do SinPsi, Fernanda Magano.     

Confira aqui o vídeo produzido no ano passado pelo SinPsi em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres.

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